Na semana passada, a indústria de beleza sofreu arranhões na imagem que tanto preza. Estudos apoiados pelo FDA, órgão americano que regulamenta remédios e cosméticos, e pela Comissão Européia informaram que os alfahidroxiácidos (AHAs), presentes na composição de muitos cremes, não são inofensivos como se pensava. Extraídos de frutas ou do leite, essas substâncias removem as células mortas da superfície da pele para melhorar sua aparência. Até agora, acreditava-se que, dependendo da concentração, também atuariam contra rugas. E que não ofereciam riscos de provocar a irritação da pele diante da exposição solar. As pesquisas mostram que o ácido pode tornar a pele mais suscetível aos efeitos lesivos do sol, causando vermelhidão, manchas, queimaduras e até bolhas. Em consequência, teriam efeito contrário, contribuindo para o envelhecimento precoce da pele.

Ainda assim, o FDA não veta a substância. “O estudo sugere cuidado e aconselha o uso de protetor solar junto com os produtos que contenham AHAs”, analisa a dermatologista Malba Bertino. A chance de efeitos colaterais não surpreende os médicos. Ana Lúcia Récio, da Sociedade Americana de Dermatologia, já indicava os AHAs na companhia de filtro solar. A mesma atitude adota o cirurgião plástico Maurício de Maio, do Hospital das Clínicas de São Paulo. “Jamais se deve usar os ácidos sem filtro solar, no mínimo de fator 15.” Outra questão levantada pelo FDA é que mesmo em baixa dosagem, pode haver complicações. “O glicólico (extraído da cana-de-açúcar) pode sensibilizar a pele com tendência alérgica, mesmo em pequenas quantidades”, explica o dermatologista Otávio Macedo.

Outro golpe na vaidade da indústria cosmética foi a revelação, feita pela revista Time, de que diversos cremes famosos contêm menor concentração de ingredientes ativos (como vitamina C e ácidos) do que indica o rótulo. Entre as marcas testadas estão Clinique, Clarins, Helena Rubinstein, Lancôme e L’Oreal. Alguns fabricantes afirmaram que o problema estava na amostra examinada. No Brasil, a L’Oreal preferiu não comentar o assunto. As empresas têm mesmo motivos para preocupação. Esse tipo de informação abala a confiança do consumidor porque levanta a possibilidade de se estar comprando um produto que não corresponde às especificações do próprio fabricante.
No meio médico, no entanto, a notícia não causou a mesma decepção sentida pelos usuários. Entre eles, os cremes industrializados nunca desfrutaram de muito prestígio. Os dermatologistas os consideram pouco poderosos diante dos efeitos do tempo sobre a pele. “Esses produtos causam, no máximo, a exfoliação da camada superficial da pele, melhorando a aparência somente durante o uso”, diz Macedo. Só teriam ação rejuvenescedora se usados em dose bem maior e por mais tempo. O benefício dessas preparações é a hidratação. “Funcionam como uma camada protetora da pele. Como um casaco que aquece o corpo nos dias frios”, compara Maio.

O pouco entusiasmo dos médicos é compreensível. Doses de ingredientes ativos nas fórmulas cosméticas são baixas para que possam ser vendidas sem prescrição médica. Portanto, fica claro que a maioria dos produtos tem efeito superficial. Na opinião da diretora de marcas importadas Viviane Simões, da PH Arcangeli, representante de Clinique e Clarins no Brasil, as propriedades dos cosméticos, inclusive os que contêm ácidos, são melhor aproveitadas se o consumidor adotar cuidados adicionais. “Há eficácia. Mas não adianta, por exemplo, usar um produto no inverno e no verão seguinte tomar sol sem proteção.” Conclusão: o creme não compensa se o que se espera dele é um efeito rejuvenescedor. Sem tanta expectativa, dão conta do recado.