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Poucas vezes um título foi tão merecido como este da Copa Libertadores da América 2013, conquistado pelo Clube Atlético Mineiro. Não exatamente pelos dois jogos decisivos, mas pelo que ele representou para o Galo. Foi uma libertação. Talvez maior do que a do Corinthians no ano passado. Afinal, o Atlético não ganhava um título importante desde 1997 e um título superimportante desde 1971. Pior do que isso: a sequência de vice-campeonatos estava tão longa que a torcida teve de buscar forças no fundo da alma para dizer ao time: “Eu acredito!” E a hastah #euacredito ganhou as redes sociais e manteve-se firme até o quarto pênalti cobrado pelo Olímpia.

O mesmo Olímpia, aliás, que tinha sido derrotado pelo Atlético em sua penúltima conquista importante, a Copa Conmebol de 1992, quando o legítimo cavalo paraguaio caiu por 2-1 na soma dos dois jogos (2-0 e 0-1). Com o título da Libertadores 2013, o Galo provou que “cavalo paraguaio” pode ser qualquer um, menos ele, detonando o tabu de que time que arrebenta na primeira fase nunca se torna campeão sul-americano.

O Galo está libertado! Pode estufar o peito, cantar seu “co-co-co-co-co-co-ró! co-co-co-co-co-co-ró!” e dizer que o Galo só tem saudade da galinha carijó, pois de título ele está bem abastecido, obrigado. Um título que fez bem não só ao Galo, mas a todo o galinheiro, representado na figura do técnico Cuca e dos ídolos do passado que não tiveram a chance de gritar “é campeão” numa disputa tão importante: Reinaldo, João Leite, Ângelo, Toninho Cerezzo, Éder e tantos outros.

A fila de fracassos do Atlético Mineiro estava realmente insuportável. De repente, de uns anos para cá, o grandioso CAM, que tinha sido campeão do Torneio Nacional da CBD no longínquo ano de 1937 e que era glorificado como o “primeiro campeão brasileiro”, por causa do título de 1971, estava perdendo não só as disputas contemporâneas, mas até as glórias do passado. Afinal, depois que a CBF resolveu unificar os títulos brasileiros, o primeiro campeão nacional deixou de ser o Atlético Mineiro de 1971 e passou a ser o Bahia de 1959. Como foram longos esses 42 anos! Tão longos que até mesmo os títulos estaduais começaram a perder importância. De repente ninguém mais dava bola para o hexacampeonato mineiro de 1978/79/80/81/82/83. De repente ninguém mais dava bola para o atual bicampeonato mineiro — o de 2012 conquistado em cima do rival América e o de 2013 derrotando o arquirrival Cruzeiro. De repente ninguém dava bola para o fato de que o Galo é o maior papão de títulos de Minas Gerais. Libertas quae será tamem, diz a bandeira mineira. E quem melhor para representá-lo do que o time que leva no nome o orgulho de ser mineiro? Clube Atlético Mineiro, campeão sul-americano de 2013! Quanta felicidade para uma das torcidas mais apaixonadas do Brasil!

O título da Libertadores foi também para a glória do timaço de 1977, de João Leite, Angelo e Reinaldo, que perdeu nos pênaltis (2-3) o Campeonato Brasileiro, num Mineirão lotado e molhado depois de 120 minutos de zeros no placar diante do São Paulo. Foi também para o timaço de 1980, de Toninho Cerezzo e Éder, depois de duas emocionantes decisões, no Mineirão e no Maracanã, contra o imbatível Flamengo de Zico (1-0 e 2-3). Foi também para o esforçado time de 1999, de Gallo e Guilherme, que só sucumbiu diante do grande Corinthians de Dida, Marcelinho, Vampeta, Rincón e Edilson, que viria a ser campeão mundial de 2000,  após três jogos espetaculares no Mineirão e no Morumbi (3-2, 0-2 e 0-0). Foi também para o deslumbrante time de 2012, de Ronaldinho, Jo e Bernard, que não teve fôlego para o galope de pontos corridos contra o Fluminense. Foi para vingar até mesmo o terrível time de 2005, que jogou o Atlético Mineiro na Série B de 2006, de onde ele voltou campeão, superando o Sport Recife. Eu mesmo já duvidava da grandeza do Atlético Mineiro.

Depois da libertação do Galo, todos os títulos desprezados passaram a ser importantes de novo. E agora o time tem confiança para o desafio do Brasileirão e do Mundial de Clubes da Fifa, diante do Bayern Munique. O mesmo Bayern, aliás, que impediu o título mundial do Cruzeiro em 1976. O mesmo Cruzeiro, aliás, que não ganha um Brasileiro desde 2003 e uma Libertadores desde 1997. É incrível, mas agora quem está na fila não é o Galo; é o Cruzeiro. Porque os 42 anos sem títulos brasileiros já pesa menos nas costas. O que pesa mesmo são os dez anos de fila do rival no Brasileirão e os 16 anos sem Libertadores. Porque o Galo, este está libertado!

Co-co-co-co-co-co-ró! Co-co-co-co-co-co-ró…
 

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