A onda começou na ecologicamente correta Europa. Foi levada para o Japão e chegou aos Estados Unidos. Executivos, adolescentes, descolados e até mesmo pacatas donas de casa têm a sua patinete. Agora chegou a nossa vez. Em Londres, Nova York e Tóquio elas são parte da paisagem. Aqui não deverá ser diferente. Carros, motos e pedestres terão mais uma companheira nas ruas.

Essa mistura de skate com bicicleta está longe de ser novidade. Quem passou dos 40 anos teve uma ou conhece alguém que teve. Mas a diferença entre as modernas e as antigas é quase a mesma de uma BMW para um Fusca. É tudo mais chique, leve e prático. Em vez de madeira e ferro, são de aço e alumínio. As rodas são de poliuretano, espécie de plástico mais resistente. Para evitar tombos, vêm equipadas com freio traseiro, acionado com um dos pés. Ela também é dobrável. Esses acessórios as tornam o veículo ideal para os offices-boys, um dos público-alvo da ToyPower, primeira empresa brasileira a fabricar os novos objetos de desejo. “É prática. Dá para entrar e sair do banco, pegar metrô”, aposta Adriano Sabino, presidente da ToyPower.

Donos de supermercados e estacionamentos também fazem testes com o brinquedo. Os patins, utilizados por algumas mocinhas em hipermercados, podem estar com seus dias contados. “Além da agilidade e rapidez, é um lazer durante o trabalho” diz Rogério Ramalho, 30 anos, gerente operacional da rede de estacionamento Netpark, de São Paulo. Os manobristas deverão usar as patinetes para pegar os carros.“O trabalho vai ficar mais rápido e divertido”, afirma o manobrista Lourival Mello Júnior.

Calcula-se que até agora foram vendidas mais de 50 mil patinetes no País. “Grandes fabricantes, como a Caloi, anunciam para breve o lançamento de suas patinetes. A apresentadora Eliana também terá sua linha.

Por essas e por outras é bom o dono da ToyPower ir se coçando. O modelo testado por IstoÉ apresentou problemas em uma das peças que fixam o guidão ao corpo da patinete. Depois de inúmeras tentativas de se prender a direção, uma dessas peças se rompeu. O envergonhado dono pediu desculpas e garantiu que o modelo enviado é de um lote antigo. Os novos, segundo ele, sofreram ajustes. A patinete testada custa R$ 160. Pouco menos que os R$ 180, pagos num importado similar.

Alheios a preços e problemas técnicos, André Vianna, 11 anos, e Tomas Artur Soares de Almeida Pirro, o Tom, 12 anos, só querem saber de “patinetar”. A dupla não desgruda da novidade. “É animal”, diz Tom. A patinete do garoto foi comprada em Roma. Ele e André, seu colega de classe, que tem uma patinete made in Nova York, aproveitam a onda para chegar perto das meninas. “Elas acham coisa de criança, mas vivem pedindo para dar voltinhas”, diz André.

Cinqüentão na onda

Há quase um ano tenho visto jovens energéticos zunindo pelas planas ruas de Manhattan com as novas versões das patinetes. O departamento de marketing das lojas Sharper Image – uma pioneira e campeã nesse comércio – calcula que somente neste ano serão vendidos mais cinco milhões de unidades. Existem quatro modelos rivais no mercado: Micro, Kickboard, Xooter e o campeão Razor. Os preços variam de US$ 99 (para os velhos Razor – com o novo Razor 2000 custando US$ 125) o US$ 325 (para mais avantajado, o Xooter).

Minha filha ganhou da avó um Razor, prateado como acessório de super-herói. Eu imaginei que, como veterano no assunto, seria fácil entrar na onda. Há cerca de 40 anos eu também ganhei uma patinete de meu avô. Era feita de madeira, parecia uma chave de problema de trigonometria sobre duas rolimãs médias. Anos mais tarde fiz uma outra patinete com rodas de carrinho de feira. Com tanta experiência, seria barbada entrar para a gangue de patineteiros. A distância de 150 metros foi o suficiente para mostrar que essa não era uma moda que eu poderia repetir impunemente. Uma raiz elevou o pavimento da calçada, o suficiente para fazer um calombo invisível à luz das 19 horas para olhos de alguém bem entrado na meia-idade. Foi um tombo de deixar marcas: duas costelas trincadas e um rasgo no cotovelo.
O dr. Leonard Stone, que me atendeu no pronto-socorro, disse que as patinetes são menos perigosas que bicicletas, patins ou skateboards. Isso porque têm centro de gravidade menor, propiciam menor velocidade, têm uma barra com guidão que dá mais controle. “Para as crianças é um ótimo brinquedo, e para adultos cuidadosos é um bom meio para se exercitar”, garante o médico. Falou com tanta convicção que me convenceu. Comprei na semana passada um Razor 2000, que vem também com amortecedores aparentes e descanso extra para o pé. O duro agora serão os gastos com Gelol para diminuir as dores musculares.

Osmar Freitas Jr., de Nova York