Mais famosa pelos escândalos que sempre se viu envolvida do que pelo seu canto e composições sensíveis que perpetra desde os anos 80, Angela RoRo virou outra pessoa. Esqueça aquela mulher que bebia feito louca, falava dez palavrões numa frase de uma linha, consumia drogas, provocava a platéia, se metia em confusões com suas namoradas e abandonava shows repentinamente. “Hoje, sou fruto de melhor degustação do que outrora. Como cantora, como pessoa, estou mais sociabilizada. A vida regenera, né?”, diz ela. Cruzes! Quem poderia imaginar que a autora da definitiva Gota de sangue um dia usaria a palavra regeneração para definir seu próprio estado? Parece ficção, mas não é. No momento, RoRo é capaz de falar durante horas e conservar o bom senso, o equilíbrio e a coesão de seu discurso. Está passando pelo mesmo processo que outros artistas como Baby do Brasil, Vera Fischer, Felipe Camargo, Lobão e Luiz Thunderbird já vivenciaram. Ou seja, ir ao fundo do poço para depois emergir, dando valor à saúde, à vida.

Para completar o processo laços de família, Angela RoRo – uma intérprete de voz rouca e úmida, a quem Cazuza dizia humildemente imitar – está finalizando seu novo disco, Acertei no milênio, cheio de sambas, toadas, violas. Será lançado pela gravadora Jam, de Jane Duboc e Paulo Amorim. RoRo está sem gravar desde 1993 e, em 20 anos de carreira, produziu apenas oito discos. Os últimos tempos foram de muito sofrimento. Entrava e saía de colapsos nervosos e a saúde quase se extirpou por conta de uma hepatite e vários outros problemas. A decisão de mudar tudo veio sozinha, sem psicanálise, sem estímulo de amigos, família, nada. “Nunca telefonei para um médico para fazer minhas besteiras. Não vou, agora, agarrar um coitado para me salvar. Não sei se posso ter orgulho em dizer isso, mas me livrei das toxinas, das drogas, das neuroses, lutando sozinha.” Hoje, acordar de ressaca nunca mais. Angela RoRo só quer dormir cedo, brincar de amor, curtir seus livros, seus discos e nada mais.