No início da década de 80 a escritora Faith Popcorn, autora do best-seller Relatório Popcorn, previa como seria a vida no início do novo milênio. Entre suas análises, Faith afirmou que o automóvel seria a continuidade da casa, uma espécie de casulo. Para a decoração desse tal “casulo”, os brasileiros recorreram aos adesivos, acessórios coloridos que muitas vezes refletem a personalidade de quem está ao volante.

Os adesivos demonstram estilos de vida, revelam crenças, opiniões. Os vidros são sempre o espaço certo para a bênção de frases como “Pit Bull” ou “Tenho orgulho de ser católico”. A psicóloga Helena Lima acredita que os adesivos funcionam como tatuagem. Ela ostenta dois em seu carro: um da faculdade em que dá aula e outro da rádio que costuma ouvir. “Tem muita gente que nunca surfou na vida e, mesmo assim, cola um adesivo sobre o tema. Isso prova o que essa pessoa gostaria de ser”, conclui.

Os autocolantes são baratos e fáceis de encontrar. Por R$ 4 é possível escolher mais de 30 opções de frases como “Chique no úrtimo”, “Vou rezar 1/3 para arranjar 1/2 de te levar para 1/4”, “É nóis na fita” ou até mesmo “É nóis no DVD porque fita é coisa de pobre”. Pedro Roberto Monagati acompanha o aumento de pedidos dos adesivos. Sua loja no centro de São Paulo vende mais de 50 frases, logomarcas ou imagens de bonequinhos por dia. “Os adesivos custam entre R$ 3 e R$ 7. A margem de lucro é de 200%”, afirma Monagati. Mas tem gente que não gosta de comprar nada pronto. Inventa, desenha e produz em casa. É o caso do gerente financeiro Anderson Suliani, que fez o adesivo de seu Logus branco CLI 1994 com vidros negros. A denominação “Trovão Branco” aparece emoldurada por raios e a imagem do carro ao centro. “Fiz tudo, da letra ao carro. O raio foi para dar mais força à idéia de trovão. As pessoas adoram, me param na rua e querem um igual. Mas não faço, só mesmo o Trovão”, diz orgulhoso.

Quem acha que uma frase ou uma imagem não são suficientes para transmitir a mensagem, recorre à buzina que fala. Em vez de soar o tradicional “bibi” ou “fon-fon”, solta pérolas como “Sai da frente”, “E aí, gostosa?”, entre outras nove frases. O kit pode ser comprado por R$ 100 e o motorista escolhe a frase a partir de um controle remoto com 12 botões. Dependendo da situação, basta escolher um e esperar a reação do outro motorista.

O gosto duvidoso destes acessórios aproxima ou distancia as pessoas no trânsito, dependendo do humor de cada um. Curioso também é olhar aquele senhor calvo e cansado no carro ao lado com um adesivo gigante de um pit bull com a frase “Eu pratico jiu-jítsu”. Ou ainda aquela garota religiosa que preferiu colar “Propriedade de Jesus Cristo”. Será que, no caso de uma infração, a multa e os pontos vão endereçados a Jesus?