A falta de solidariedade pode fechar as portas do Amparo Maternal, entidade filantrópica que há 61 anos acolhe grávidas carentes na zona sul de São Paulo. A despesa mensal da casa gira em torno de R$ 700 mil e a dívida com os fornecedores já chega a R$ 2,5 milhões. A instituição se mantém com recursos do Sistema Único de Saúde (SUS) e com doações. As doações caíram e o SUS repassa apenas parte das despesas. Um parto normal, por exemplo, custa R$ 430 e o SUS reembolsa apenas R$ 270. Para uma cesariana que custa R$ 800, o SUS paga somente R$ 342. “Estamos com contas de água e luz atrasadas, dívidas protestadas e os fornecedores de remédios só entregam os medicamentos com pagamento à vista”, contou a freira Anita Serrachioli Gomes, 74 anos, presidente da instituição que vive uma situação caótica. “Se o governo não me socorrer eu vou fechar as portas”, lamenta a freira. Há duas semanas a casa chegou a fechar. E só voltou a funcionar graças a duas doações: uma de R$ 30 mil de dom Paulo Evaristo Arns e outra de R$ 20 mil de um doador anônimo. Com o dinheiro, irmã Anita comprou remédios. “O trabalho do Amparo é maravilhoso. Lá, os mais pobres dos pobres vêm ao mundo com um tratamento de primeira”, afirma dom Paulo, um dos maiores defensores da instituição. Sobre a possibilidade de a casa deixar de existir, ele é contundente: “Os governos e a Nação têm o dever de mantê-la com todos os seus gastos, coisa que nunca fizeram.” Há dois anos, segundo irmã Anita, o arcebispo dom Cláudio Hummes conversou com o ministro da Saúde, José Serra, sobre as dificuldades do Amparo. A conversa resultou na liberação de R$ 1,2 milhão, mas a verba ainda não chegou. “Prometeram que a primeira parcela, R$ 600 mil, vai chegar daqui a vinte dias”, espera a freira.

O Amparo Maternal, fundado em 1939 pelas irmãs franciscanas, oferece às andarilhas e mulheres carentes assistência médica, alimentos, alojamento, cursos profissionalizantes e reintegração social. As migrantes são maioria. Lá são realizados 900 partos por mês. O albergue tem 100 leitos e a maternidade, 150. O centro cirúrgico e a UTI são aparelhados com equipamentos de última geração. Estão na casa hoje 60 gestantes no albergue, 74 na maternidade, 70 bebês no berçário e 30 na UTI. Entre as mães está Maria Solange da Silva, 40 anos. Ela vivia com José Ricardo em um quarto de pensão até que ele perdeu o emprego e foi morar num albergue. Grávida de cinco meses, recorreu ao Amparo. “Foi o único lugar que me aceitou. Para nós, isso aqui é o céu”, diz Maria.


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