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DECISÃO
Boris Spassky e Bobby Fischer no
"match do século" em 1972: ligação de Kissinger

O destino da humanidade já esteve perto de ser decidido em um xeque-mate. Por décadas os campeonatos de xadrez fizeram eco ao conflito bélico entre os EUA e a antiga URSS no pós-Segunda Guerra, como defende, com base em documentos e relatos inéditos, o jornalista britânico Daniel Johnson, no livro “Rei Branco e Rainha Vermelha – Como a Guerra Fria Foi Disputada no Tabuleiro de Xadrez” (Record). No tempo em que as forças políticas se dividiram de forma maniqueísta em dois polos, os comunistas mantiveram por longo tempo a supremacia nas disputas do jogo contra os capitalistas – até serem derrubados por um enxadrista americano. A investigação de Johnson indica que, assim como na corrida espacial, a disputa ideológica das duas grandes potências da época encontrou no tabuleiro uma forma de ilustrar a queda de braço de seus respectivos poderes nucleares. E isso “ajudou a salvar a civilização”.

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Diante do exército de peões e torres, bispos e rainhas pontuaram grandes jogadores russos, como Garry Kasparov, Anatoly Karpov e Boris Spassky, que disputou com o americano Bobby Fischer a partida mais decisiva da Guerra Fria, iniciada em 1º de julho de 1972. Com direito a telefonema do secretário de Estado dos EUA Henry Kissinger e a ações de espionagem do país adversário, a partida terminou após mais de um mês, com a vitória americana – a primeira na história do Mundial. O baque teria sido simbólico para a derrocada da URSS. Para os soviéticos, a habilidade intelectual atestada nos campeonatos mundiais de 1948 até aquele momento comprovava a superioridade de seu regime político. Seus jogadores eram tratados pelo Kremlin como instrumento de propaganda e prestígio, financiados pelo governo e declarados Heróis do Povo.

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Para impressionar os EUA, Fidel Castro (acima, à dir.) promoveu
em Havana a maior olimpíada de xadrez em 1966

Além de poderoso marketing, o xadrez era uma arma da União Soviética para conquistar apoio. O livro dá destaque à olimpíada dedicada ao jogo em Havana, em 1966, quando até o ditador Fidel Castro sentou-se compenetrado numa partida em praça pública. Seu objetivo era impressionar os americanos. Mais tarde, com a vitória de Fischer, os países detrás da Cortina de Ferro perderam a hegemonia que jamais seria recuperada. “O xadrez soviético nunca mais foi o mesmo”, escreve Johnson. Talvez, nem o Mundo.