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Em 1978, quando o Flamengo de Zico e o Guarani de Zenon e Careca eram os melhores times do Brasil, a revista "Placar" fez uma reportagem perguntando: “Por que o Corinthians não é o Flamengo?” Tratava da incrível incapacidade corintiana de montar um grande time, apesar de ter atrás de si a torcida mais apaixonada do Brasil. Vinha da famosa invasão de 70.000 corintianos no Maracanã, em 1976, na semifinal do Brasileirão contra o Fluminense, e do emocionante título paulista de 1977, diante da Ponte Preta.

Trinta anos depois, o Corinthians de 2008 agradeceria muito se estivesse pelo menos na condição do Corinthians de 1978, que "Placar" esculachou. A “Fiel Torcida” empurrava o time com a garganta em jogos da segunda divisão do Campeonato Brasileiro. Era o resultado de anos de má administração do presidente 171, do acordo vergonhoso com a MSI (ligada à máfia russa) e da arrogância de Alberto Dualibi, pois não quis largar o osso saboroso do poder após a fase de conquistas de um dos maiores esquadrões corintianos — com Marcelinho, Rincón, Ricardinho, Dida, Edilson, Dinei, Luisão e Vampeta, o Timão chegou ao bicampeonato Brasileiro de 1998/99 e ao título Mundial de Clubes em 2000.

O Corinthians foi do Céu ao Inferno com uma velocidade que nem Dante conceberia. Mas, após a chegada do tosco e sagaz Andrés Sanchez à presidência, o Sport Club Corinthians Paulista finalmente se transformou na força que a "Placar" queria três décadas antes. A sequência de conquistas do Corinthians de lá para cá é impressionante: campeão brasileiro da Série B em 2008, campeão paulista de 2009, campeão da Copa do Brasil de 2009, campeão brasileiro de 2011, campeão sul-americano de 2012, campeão mundial de 2012, campeão paulista de 2013 e, finalmente, campeão da Recopa Sul-americana de 2013. Uma sequência que só mais seis times conseguiram nas últimas quatro décadas: Ajax, Milan, Juventus, Real Madrid, Barcelona e São Paulo (que merece uma crônica à parte).

O Corinthians tem dois títulos mundiais da Fifa, um da Copa Libertadores da América, um da Recopa Sul-americana, cinco do Campeonato Brasileiro, três da Copa do Brasil e 27 do Campeonato Paulista. Não é o time que tem mais títulos, mas é o time que mais cresce no mundo desde que contratou o fenômeno Ronaldo para vestir sua camisa 9, na virada de 2008 para 2009. 

O Timão, hoje, é um exemplo até para os grandes clubes da Europa. Com uma torcida estimada em 30 milhões de fiéis — que ameaça o domínio do Flamengo nas regiões Norte e Nordeste –, o Corinthians exibiu ao final de 2012 um patrimônio líquido de R$ 75 milhões. Suas receitas operacionais bateram na casa dos R$ 356 milhões. Mas torcida não quer dinheiro; quer gols. Por isso, o Corinthians tem usado sua força financeira para proporcionar o melhor ao time que entra em campo. O Centro de Treinamento Joaquim Grava — uma área de 98 mil metros quadrados construídos no Parque Ecológico do Tietê, entre o Parque São Jorge e o Aeroporto Internacional de Guarulhos — tem quatro campos de futebol de tamanho oficial (105 x 70 metros) e um exclusivo para treinamento de goleiros (80 x 55 m).

Humilhado durante décadas por não possuir uma “casa própria” à altura de sua grandeza, o SCCP está finalizando o maravilhoso estádio que abrigará o jogo de abertura da Copa do Mundo de 2014. A Arena Corinthians (nome provisório) terá capacidade efetiva para 48.000 torcedores (na Copa serão 68.000), com 89 camarotes, 59 lojas e quatro restaurantes. Dá para imaginar a grana que o Timão levantará com esses camarotes e lojas? Dá. A rede Poderoso Timão começou com 12 lojas em 2008 e fechou com 120 lojas em 2012. Só com licenciamentos, o clube arrecadou R$ 21,5 milhões no ano passado.

Que a torcida corintiana é apaixonada e fiel todo mundo sabe. Tanto que a maior torcida do Brasil é a anticorintiana. A cada jogo do Timão na televisão, os “antis”, como costumam ser chamados pelos corintianos, ajudam a garantir uma altíssima audiência. O resultado disso é que a receita com TV e publicidade estática saltou de R$ 25,6 milhões em 2008 para R$ 153,7 milhões em 2012. O crescimento do Corinthians fez a Nike aumentar em quase nove vezes, num períuodo de apenas cinco temporadas, a grana que deposita a cada ano nos cofres da Fazendinha. A conta já passou de R$ 42 milhões. Graças a uma receita anual que alcança a casa de R$ 300 milhões, o Corinthians sente-se seguro para cumprir a sua parte no pagamento do estádio que abrirá a Copa do Mundo: R$ 400 milhões divididos em dez anos. A outra parte, como sabemos, vem de incentivos dados pela Prefeitura de São Paulo, que teve a mão forte do ex-presidente Lula e as bênçãos do governador Geraldo Alckmin e do ex-prefeito Gilberto Kassab. Até nisso o Corinthians é, digamos, diferenciado: três políticos de partidos diferentes e rivais (PT, PSDB e DEM) se uniram para que o projeto do estádio corintiano fosse ampliado e pudesse ganhar o famoso “padrão Fifa”.

A imagem do corintiano Danilo comemorando o gol diante de um derrotado Rogério Ceni ilustra bem o que é o Corinthians hoje perante seus maiores rivais: o São Paulo afundado numa crise, o Palmeiras na segunda divisão e o Santos órfão do craque Neymar. É muito difícil que o Timão ganhe o Campeonato Brasileiro deste ano, pois, apesar de todo esse poder, o time está bastante irregular. Talvez esteja chegando a hora de o ótimo técnico Tite buscar novos desafios e abrir espaço para um novo comandante, pois ganhar sempre também desgasta. O time está muitos pontos atrás dos líderes e teria de fazer uma campanha impecável para chegar ao sexto título nacional, além de contar com tropeços da turma do G4 (Coritiba, Vitória, Botafogo e Cruzeiro), entre outros. Nos mata-matas da Copa do Brasil, entretanto, o Corinthians é favorito. 

E assim será nos próximos anos, pois o futebol atual, ao contrário daquele dos anos 70, é movido por dinheiro e pelo marketing inteligente. Com 65 mil sócios no programa Fiel Torcedor, um canal de televisão (TV Corinthians), uma emissora de rádio (Coringão),  a maior cota e exposição da Rede Globo, um patrocínio milionário da Caixa Econômica Federal, um dos estádios mais modernos do mundo e 30 milhões de “loucos” apoiando-o em todos os jogos, a nova saga corintiana pode estar apenas começando. 

Hoje a pergunta correta seria: por que o Flamengo não é o Corinthians?