Há momentos em que um bom e sonoro murro na mesa faz milagres. É o gesto que o partido do presidente da República, o PSDB, vem pedindo a ele que faça. Como se fosse o vigia fustigado pelo vento na proa do Titanic, que tenta desesperadamente comunicar ao comandante que seria recomendável mudar o curso da embarcação 20 graus a bombordo, Aécio Neves, o líder dos tucanos na Câmara, reafirmou a Tales Faria, chefe da sucursal de ISTOÉ em Brasília, que "agora é o melhor momento para ele fazer isso. Mais tarde, não haverá outra oportunidade".

O murro na mesa que os tucanos pedem é uma ampla reforma no Ministério, colocando a chamada base de sustentação do governo, principalmente o PFL do senador Antônio Carlos Magalhães e o PMDB do senador Jader Barbalho, nos seus devidos lugares para reequilibrar a aliança ao gosto da tucanada. Como se fosse simples.

Dois fatos chamaram a atenção na convenção do PSDB no dia 8 de maio: o primeiro, quando o governador de São Paulo, Mário Covas, foi mais aplaudido do que Fernando Henrique, o que demonstra que a crescente queda de popularidade do presidente já invade o quintal do Palácio do Planalto. O segundo foi a eleição para a vice-presidência do partido de Luiz Carlos Mendonça de Barros, que partiu para cima do ministro Malan, qual Fênix esmurrando a mesa. Na troca de mimos entre os chamados desenvolvimentistas e os que defendem a estabilidade, o ministro da Fazenda foi imediatamente acudido por ACM. E não ficou nisso. Com a divulgação do segundo capítulo dos grampos do BNDES, o ex-ministro volta às cinzas.

Talvez esteja por aí, além do temperamento peculiar do presidente, a dificuldade em desferir o tão almejado murro na mesa. Ninguém sabe se acabou a temporada de grampos.