José Zaragoza, um dos donos da agência de publicidade DPZ, também artista plástico e agora cineasta, fez questão de que seu primeiro filme, Até que a vida nos separe – em cartaz no Rio de Janeiro e em São Paulo –, ficasse visualmente o mais distante possível da estética publicitária. Quem, portanto, estiver esperando um desfile de imagens filtradas e poses afetadas ou, então, um clima de passarela que inunda as obras moderninhas vai se surpreender com uma crônica bem-conduzida sobre as alegrias e os dissabores de um grupo de amigos paulistanos de classe média. Tendo como pano de fundo tomadas espetaculares de São Paulo, Zaragoza acompanhou com olhar generoso e bem-humorado o cotidiano de cinco pessoas, terminando por fazer um elogio à amizade e um retrato belo e cruel da maior cidade da América do Sul.

Bem posicionados profissionalmente, João (Alexandre Borges), Maria (Julia Lemmertz), Paulo (Marco Ricca), Pedro (Norton Nascimento) e Lulu (Bety Gofman) colecionam pequenos problemas revelados apenas na intimidade. Paulo, por exemplo, homossexual mal resolvido, acaba se envolvendo com um garoto de programa. Usando a extroversão como defesa, a carente Lulu é vítima de um jogo irresponsável dos amigos, que a presenteiam no aniversário com um escravo sexual. Não sabe, porém, que Tônio (Murilo Benício) topou a parada em troca de uma promoção no emprego. Embora Zaragoza não consiga driblar certos vícios visuais e narrativos, seu filme impressiona. Quando a violência bate à porta dos seus personagens, o cineasta estreante revela a frágil redoma que os une e os protege da realidade.