A medicina tem dado provas frequentes dos benefícios dos alimentos para a saúde. Mas uma dúvida ainda paira no ar: se a maioria das frutas, verduras e legumes parece estar imprópria para consumo devido ao excesso de resíduos químicos neles encontrados, o que fazer na hora de abastecer a despensa? Como conseguir uma dieta saudável a partir de produtos nem tão saudáveis assim? Essa convivência pode ser pacífica. Os especialistas no assunto garantem que é possível conviver com os agrotóxicos. Ou seja, ninguém precisa morrer de medo ao comprar um tomate no supermercado. "O quadro não é tão feio porque o organismo consegue se defender da maioria das substâncias. Até pasta de dentes tem componentes químicos e eles não interferem no funcionamento do corpo", assegura Flávio Zambroni, toxicologista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Mas os estudos feitos sobre o assunto mostram que quanto menos riscos o organismo correr, melhor. Por isso, é bom tomar alguns cuidados de limpeza. Dessa forma, o risco de se ingerir resíduos químicos diminui bastante. É o que faz o empresário paulista Íbero Valdívia, 51 anos. Ele vai à feira semanalmente, mas se cerca de precauções. "Assim que chego em casa coloco as frutas e as verduras de molho em água e vinagre", diz. Ter cuidado é bom, mas isso não significa que se, vez ou outra, alguém comer uma maçã com casca, por exemplo, vá sofrer um distúrbio alimentar. Para ocorrer alguma intoxicação, com enjôos e vômitos, seria preciso ingerir uma quantidade enorme de um mesmo produto contaminado por um período longo. Comer, por exemplo, várias caixas de morango por dia. "É raro encontrar casos de intoxicação por produtos químicos nos alimentos", afirma a nutricionista Mirtes Stancanelli.

 

Atenção Para se prevenir é bom variar os produtos consumidos. Apesar de todas as plantações serem bombardeadas com agrotóxicos, algumas estão mais sujeitas a acumular resíduos do que outras. Os tomates e as batatas, por exemplo, possuem cascas porosas e absorvem os agentes químicos em maior quantidade. Os morangos, as verduras e os legumes de vegetação rasteira, por estarem mais próximos do solo, também se tornam mais suscetíveis às ervas daninhas e aos insetos, que costumam sobrevoar altitudes mais baixas.

Na tentativa de escapar do problema, há quem opte pelos produtos orgânicos – aqueles sem agrotóxicos – que chegam a custar quase o dobro dos comuns. Segundo o toxicologista Zambroni, no entanto, esses alimentos podem ter microorganismos nocivos. "A limpeza deve ser a mesma que é feita com os outros", diz. Além disso, certos produtos químicos permanecem ativos no solo por décadas. Se alguém plantar numa área onde anos existiam tomates cultivados com agrotóxicos, os resíduos tendem a passar para os alimentos com a mesma força. Mas há quem discorde. A médica Patrícia Credídio, 34 anos, diz que sua saúde melhorou depois que passou a se alimentar com produtos orgânicos, inclusive durante sua gravidez. "Dificilmente pego uma gripe e minha filha de um ano nunca adoeceu", afirma. Mais uma vez, no entanto, cabe ao consumidor se proteger dos agrotóxicos da melhor maneira possível, já que não dá para ignorá-los.