Com uma previsão de crescimento para este ano entre os 12% e os 17%, a agricultura é a salvação da lavoura. Ela justificaria o otimismo do presidente da República, já que compensa a compulsória paralisia da indústria e traz o PIB este ano para 0%. Índice pior que o pífio 0,15% de 1998, mas muito melhor que os 4% negativos previstos pelos catastrofistas no começo do ano.

É bom que se esclareça: catastrofista foi o próprio governo, pois os tais 4% negativos fazem parte dos parâmetros por ele acertados no acordo com o FMI. Outros destes parâmetros são os catastróficos 16,8% de inflação que estão sendo substituídos pelos menos assustadores 7% estimados por vários analistas e confirmados pelo governo que, pela boca do ainda ministro Pedro Sampaio Malan, vem apregoando uma inflação de apenas um dígito para o final de 1999. Os indicadores econômicos estão favoráveis. As linhas de crédito externo foram reabertas, as reservas estão no patamar dos US$ 44 bilhões e a crise cambial está sob controle, pilotada pela nova estrela do governo, o presidente do Banco Central, Armínio Fraga. Pouco se fala da dívida pública que já beira os R$ 500 bilhões. Estes, sim, bastante catastróficos. E é recomendável também atenção às economias americana e argentina. Ao Norte, ameaçam aumentar as taxas de juros, e ao Sul, desvalorizar a moeda ou produzir uma recessão. Nada disso é bom.

O otimismo de Fernando Henrique, porém, é pouco justificável perante a bagunça vivida pelo governo que ressuscitou o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros. Ele já bateu de frente com o ministro Malan, em discussão sobre desenvolvimentismo e estabilidade. Malan, por sua vez, foi envolvido por boatos de que teria entregue novamente uma carta de demissão ao presidente, o que fez Antônio Carlos Magalhães sair em sua defesa. Para aumentar a confusão, o Diário Oficial publicou um contrato dando conta de que o aniversário de FHC seria animado por Elba Ramalho, que receberia a bagatela de R$ 800 mil, e outro autorizando Pelé a receber R$ 500 mil por uma palestra.

Mas onde realmente não há o mínimo de otimismo é na crescente catástrofe do desemprego. Os índices absurdos atingidos nas grandes cidades – como os 19,9% em São Paulo, os mais de 20% em Brasília e os 25% em Salvador – já estão obrigando o governo a estudar a implantação de frentes de trabalho como nos relata László Varga na reportagem da pág. 102. Otimismo mesmo encontramos à pág.112, na qual é contada a saga de Gustavo Kuerten, um brasileiro com muita garra.


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