Os generais da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) parecem estar firmemente empenhados em desmoralizar de vez a crença americana na precisão dos "ataques cirúrgicos" contra alvos muito bem definidos. Na quinta-feira 20, enquanto representantes diplomáticos dos EUA, da Rússia e o presidente da Finlândia tentavam em Moscou acertar os detalhes de um plano de paz para o Kosovo, os aviões da aliança militar voltavam a atacar furiosamente Belgrado, a capital da Iugoslávia, e a atingir alvos errados. Desta vez, as bombas lançadas contra um QG do Exército iugoslavo no bairro de Dedinje caíram sobre um hospital localizado a 500 metros de distância, matando quatro pessoas e ferindo inclusive bebês. Como se não bastasse, outros petardos errantes atingiram novamente representações diplomáticas. Há duas semanas, a Embaixada da China em Belgrado foi destruída e quatro pessoas morreram. Desta vez, por sorte, as residências dos embaixadores atingidos – de Suécia, Noruega, Espanha e Suíça – sofreram apenas danos materiais. E na sexta-feira 21, os mísseis inteligentes desabaram sobre a prisão de Dubrava, em Istok, noroeste de Kosovo. Pelo menos 19 pessoas morreram e dez ficaram feridas.

Os europeus já começam a temer que a repetição desses erros possa erodir o apoio da opinião pública de seus países aos ataques da aliança. O primeiro-ministro da Itália, Massimo D’Alema, levou na quinta-feira ao secretário-geral da Otan, Javier Solana, uma proposta de suspensão temporária da ofensiva aérea. O objetivo seria permitir que Moscou e Pequim apóiem, no Conselho de Segurança da ONU, o projeto de paz para o Kosovo apresentado pelos países do G-7 mais a Rússia. A proposta de D’Alema, contudo, foi rechaçada pela secretária de Estado americana, Madaleine Albright: "Eu não acredito que uma medida nesse sentido esteja sendo considerada pela Otan", disse. Os mísseis errantes continuam, assim, tendo licença para matar.