Três anos depois de eleger para o cargo de primeiro-ministro o líder do direitista Likud Benjamin "Bibi" Netanyahu, os israelenses escolheram na segunda-feira 17 o trabalhista Ehud Barak, 57 anos, para substituí-lo. Sob certos aspectos, esta não foi uma eleição muito kosher. Em primeiro lugar, os religiosos ultra-ortodoxos foram praticamente neutralizados pelos votos recebidos por uma coligação secular de esquerda liderada pelo Partido Trabalhista. Isso significa que, pelo menos teoricamente, seria possível fazer um governo sem a tradicional influência dos religiosos ortodoxos. Ao mesmo tempo, o partido Shas, com bases nas etnias norte-africanas sefaradis e também ultra-religiosas, foi o que proporcionalmente mais ganhou assentos no Knesset (Parlamento), de dez para 17. Esta constatação aparentemente paradoxal serve exemplarmente para mostrar os labirínticos caminhos da política no Oriente Médio. Por isso, não será surpresa se o novo primeiro-ministro firmar paz com a arquiinimiga Síria em tempo recorde. Na terça-feira 18, Miguel Angrel Moratinos, o enviado especial da União Européia a Damasco, disse que os sírios estavam "ansiosos para começar novas negociações com Israel. Eles acreditam que seja possível conseguir um acordo de paz dentro de um ano".

Cacife político para isto Barak terá. No Knesset os políticos que apóiam os termos do acordo de paz de Oslo com os palestinos, de 1993, só não tomaram 18 dos 120 assentos. Toda esta reviravolta somente seria possível graças ao ex-premiê Netanyahu. Foi ele, com sua política intransigente e centralizadora, que conseguiu dar sentido ao slogan da frente de esquerda "Um Israel". E os privilégios e a grande influência que o governo do Likud havia dado aos religiosos ultra-ortodoxos acabaram por catalisar o descontentamento de um eleitorado majoritariamente secular. Além disso, Israel está cansada de guerra.

Há pouco mais de três anos, Ehud Barak já dizia que a segurança do país dependia de acordos de paz com seus vizinhos. Numa entrevista a ISTOÉ em Jerusalém, às vésperas da derrota eleitoral dos trabalhistas em 1996, ele disse que Israel estaria disposto até a devolver o território nas colinas de Golã, capturadas em 1967. "Como israelense, sei o valor daquela terra, o quanto pagamos em sangue por ela. Como soldado, sei exatamente a importância estratégica daquele território. Mas não sejamos ingênuos: se quiserem nos atacar, os sírios não viriam apenas montados em tanques e a pé através daquelas colinas. Hoje em dia, não é assim que se faz a guerra; há muito tempo sabemos do arsenal de mísseis da Síria. Ambos os lados sabem que, com mísseis, uma guerra pode significar aniquilamento", disse Barak. "É preciso negociar uma saída com a Síria, nem que isso envolva estabelecer uma zona desmilitarizada em Golã", afirmou.

E na chamada "zona de segurança" no Sul do Líbano a situação é comparada a um Vietnã israelense. Em 1985, Israel criou no Sul do país uma área de ocupação para proteger o Norte israelense. Desde então, os guerrilheiros do Hizbollah, patrocinados pela Síria, vêm causando baixas cada vez mais insuportáveis. Com a promessa de retirada da região no espaço de um ano, mais a volta aos termos do acordo de paz com os palestinos, Ehud Barak ganhou o coração de seus compatriotas.