Quando o general Abdul Fattah al-Sisi anunciou a deposição do presidente do Egito, Mohamed Mursi, no dia 3, ele não estava sozinho. Ao seu lado, encontravam-se o Nobel da Paz e líder da oposição liberal, Mohamed ElBaradei, representantes do movimento rebelde conhecido como Tamarod e vários outros políticos. A intenção era mostrar que a insatisfação com Mursi escrachada nas ruas pelos milhões de manifestantes tinha se generalizado e que o Exército estava comprometido em transferir o poder para as mãos de civis o mais rapidamente possível. Na semana passada, a transição começou a tomar forma. O economista Hazem al-Beblawi assumiu como primeiro-ministro e ElBaradei, ex-chefe da Agência Internacional de Energia Atômica da ONU, como vice-presidente. O cenário nas ruas, porém, continuou tenso. O movimento político-religioso ao qual Mursi pertence, a Irmandade Muçulmana, prometeu resistência e a violência se intensificou. Só na segunda-feira 8, mais de 50 pessoas foram mortas pelo Exército ao defender o retorno de Mursi, que estaria preso na sede da Guarda Republicana.

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NOVO GOVERNO
Mohamed ElBaradei (acima) e Hazem al-Beblawi
têm a missão de restabelecer a democracia

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Menos organizados que os muçulmanos conservadores, os liberais seculares agora devem provar que o rumo da democracia é possível e que o país pode ter um destino diferente da Argélia e do Irã. Não é uma tarefa simples. Na Argélia, uma guerra civil matou cerca de 200 mil pessoas nos anos 1990, depois que um golpe militar impediu que os islâmicos assumissem o poder. No Irã, desde a Revolução de 1979 os islâmicos nunca mais deixaram o poder, o aiatolá é um líder supremo e a democracia continua a ser um sonho distante. Equilibrar-se entre os extremos parece ser uma tentativa do presidente interino Adly Mansour, que sinalizou que abriria espaço para a Irmandade Muçulmana num governo tecnocrata. Com seus líderes perseguidos e presos, entretanto, o grupo mostrou-se pouco disposto ao diálogo.