Dentro de três semanas, 500 mil pessoas ligadas ao governo da Bahia passam a receber assistência médica e hospitalar por apenas R$ 30, uma autêntica pechincha. Isso, ao menos, é o que reza o maior plano coletivo de saúde já fechado no País – um polêmico negócio que gerou suspeitas e rachou o cartel dos planos de saúde. "Teremos direito a tudo: cobertura de doenças como Aids e internações em UTI", festeja o secretário estadual de Administração, Sérgio Moysés. Para o PFL da Bahia – do senador Antônio Carlos Magalhães – esse certamente foi um grande contrato. Já os prestadores do serviço estão torcendo o nariz. Primeiro, porque a Brasil Saúde, empresa do Banco do Brasil e da Sul América, fez uma proposta tão ousada para vencer a licitação que agora não sabe quando terá lucro. E segundo, porque está sendo questionada a presença de um corretor externo na operação.

A desconfiança partiu de alguns funcionários do Banco do Brasil e foi expressa pelo ex-diretor de Crédito Edson Soares, que diz ter trabalhado pelo cancelamento do contrato. Ele estranhou sobretudo a participação do corretor Henrique Brandão, um badalado profissional do Rio, que levantou os preços hospitalares na Bahia e achou um valor menor que o calculado anteriormente pela BB-Corretora. "É claro que tinha um esquema por trás. Eles queriam aumentar o volume de negócios sem nenhuma preocupação com o lucro. Por isso, eu mandei abortar", lembra o ex-diretor, que caiu há dois meses com a eclosão do caso Encol. Henrique Brandão levará R$ 450 mil mensais de corretagem. Ele confirma as cifras, mas nega a existência de um esquema. "Isso é mentira. Sempre ganhei dinheiro limpo e sou acusado porque combato a BB-Corretora, que é uma excrescência", reage Brandão.

Antes da assinatura do contrato – que ocorreu em 18 de abril –, Edson Soares enviou carta à Brasil Saúde recomendando que a empresa se afastasse do negócio. Quem recebeu a mensagem foi o então presidente Luiz Felipe Denucci. Ele defende a legalidade da operação e lembra que teve o aval de Paulo César Ximenes, presidente do Banco do Brasil e superior hierárquico de Soares. As suspeitas contra o contrato só não encobrem o mérito de minar o cartel dos planos de saúde. Em janeiro, quando os envelopes da licitação foram abertos, a Brasil Saúde (R$ 30) bateu fácil a Bradesco (R$ 68) e a Golden Cross (R$ 63), fugindo do preço padrão. Os próximos meses dirão se a empresa do BB expôs o lucro abusivo de seus concorrentes ou se vai gerar um prejuízo aos seus controladores. Denucci avisa que, no primeiro ano, deve haver uma perda de até três meses de faturamento. Na ponta do lápis, são R$ 30 milhões. "Seguro para 500 mil pessoas é diferente mesmo", sustenta. A atual direção da Brasil Saúde ainda tentou "ajustar o contrato", mas não deu certo. O governo baiano garante que nada foi alterado. A Sul América também quis desistir, mas acabou vencida. "Esperamos que o Banco do Brasil cumpra o contrato, senão vamos aplicar as punições previstas", ameaça o secretário Sérgio Moysés.