O ministro Paulo Renato conseguiu colocar do mesmo lado reitores e alunos ao anunciar na semana passada a lista das 101 universidades (Direito, Administração e Engenharia Civil) que corriam o risco de fechar caso não tivessem atendido às exigências do Ministério. Não há dúvida de que as medidas de controle de qualidade das universidades são bem-vindas e necessárias. Demoraram até demais a chegar. Mas, ao colocar no mesmo patamar fábricas de diplomas e universidades bem-conceituadas – algumas federais, que dependem de verbas do governo –, ele causou revolta e protestos. Os alunos de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, de São Paulo, abarrotaram os aparelhos de fax das redações de jornais e revistas com notas de repúdio. "Tiramos ‘A’ no provão e estamos entre as três que mais aprovam nos exames da Ordem dos Advogados do Brasil", indigna-se Pedro Rubez Jehá, presidente do diretório. "O MEC devia ver antes se as exigências foram atendidas. Não somos escolas de terceira categoria", endossa o reitor Cláudio Lembo. Esta semana, ele recebeu com tranquilidade a nova visita dos técnicos do Ministério. "Fechar é bobagem."

As críticas pipocaram em todo o Brasil. Para a tradicional Universidade Cândido Mendes, do Rio, uma questão séria virou espetáculo. "O MEC fez as recomendações em outubro e vem agora falar em fechamento. Isso é absurdo num país onde só dois milhões de pessoas chegam ao ensino superior", revolta-se o pró-reitor Edson Nunes. Para ele, o currículo, um dos itens tidos como inadequados, é uma opção da instituição. "Nosso objetivo são as carreiras tradicionais", diz ele. A Federal de Rondônia discordou dos critérios iguais para realidades diferentes. "Não podemos ter aqui tantos mestres e doutores como em São Paulo", defendeu-se o reitor Ene de Silveira. O MEC não ignora o assunto. "A titulação é apenas um ponto. Há ainda a dedicação dos professores, a experiência, a produção científica", explica Daniel de Aquino Ximenes, coordenador técnico do MEC. A questão é que isso não ficou claro para a maioria dos envolvidos. Segundo o professor José Goldemberg, ex-ministro da Educação, o governo precisa de um plano efetivo de melhoria. "As universidades privadas atendem à demanda real. A missão do MEC é apertá-las, mas poderia oferecer empréstimos para a adequação", sugere o ex-ministro. É bom lembrar que a proliferação de cursos privados se deu justamente pela falta de oferta pública.

A avaliação do MEC não é definitiva. Todas as instituições serão revisitadas nos próximos três meses e as que tiverem deficiências terão seis meses para se ajustar. "Queremos que esses cursos reajam e corrijam suas falhas", afirma Ximenes, enfatizando que o MEC não quer fechar cursos, mas sacudir a comunidade acadêmica. Nas universidades, porém, a impressão é outra. "Essas avaliações, desde a do livro didático, soam como bravatas destinadas a gerar manchetes espalhafatosas. Há intolerância à diversidade regional e de projetos", opina o professor Nilson José Machado, chefe do Departamento de Metodologia da Faculdade de Educação da USP.

Colaboraram Guilherme Evelin (DF) e Clarisse Meireles (RJ)