Na imensa reserva da tribo amazônica waimiri atroari, a ordem é "brincar", mas bem ao estilo de Macunaíma. O vigor sexual desse povo indígena está produzindo uma das maiores explosões demográficas já registradas no País. Nos últimos dez anos, a população waimiri simplesmente dobrou, superando a marca dos 800 integrantes. A aritmética justifica a pressa. A área waimiri tem 2,5 milhões de hectares na fronteira do Amazonas com Roraima. É a menor densidade habitacional das reservas brasileiras: há em média um único índio para cada 30 quilômetros quadrados de floresta amazônica. Uma verdadeira tentação para madeireiros e grileiros instalados da região. "Precisamos dobrar nossa população para proteger a reserva", ordena o cacique Mário Paruwé.

Para dar conta de tamanha animação, a cultura tribal permite aos homens manter relações com pelo menos duas mulheres – o que é cada vez mais comum. O jovem Kratxini, 25 anos, por exemplo, ainda está na primeira esposa, mas já teve cinco filhos. "Por enquanto está bom, mas dá muito trabalho", reclama o índio, atrapalhado com tantas crianças.

Nos últimos anos, as ameaças de invasões ainda não representaram perigo. Mas se precisar… "Todos nós estamos treinados para a guerra", avisa um sisudo Paruwé. Ele próprio é responsável pela morte de três indigenistas que se arriscaram nas missões precursoras da Fundação Nacional do Índio (Funai), ainda no início dos anos 70. Único sobrevivente daquelas expedições, Porfírio Carvalho já teve tempo de abafar a mágoa pelo assassinato de 15 de seus ex-colegas. "O Exército também matou muitos índios", justifica o indigenista.

Hoje, Porfírio e Paruwé trabalham juntos para preservar o povo waimiri atroari. Administram escolas e oficinas instaladas nas 18 aldeias da reserva, preservando sua arte e cultura. Contam com um patrimônio de R$ 1,5 milhão, resultado de negócios comerciais e indenizações pagas pela Eletronorte – que inundou parte da reserva indígena para construir a hidrelétrica de Balbina e cortou-a com uma estrada. Esses recursos financiam o sistema educacional da reserva, que alfabetizou todos os waimiris entre 4 e 40 anos de idade e editou vários livros no idioma local – kinjará. O êxito só não convenceu ainda a burocracia de Brasília, onde o Ministério da Educação resiste em reconhecer o programa letivo da tribo.