Assim que saltou da escuna Alto Astral para sua primeira aula de mergulho livre, um grupo de adolescentes da cidade mineira de São Lourenço se deparou com uma enorme estrela-do-mar. À medida que os garotos nadavam pelas águas cristalinas de uma enseada da Baía de Ilha Grande, em Angra dos Reis (RJ), avistavam cardumes de peixes coloridos, pepinos-do-mar e corais das mais diversas formas e tonalidades. Como já haviam verificado de perto as ventosas da estrela-do-mar, não demoraram a perder o medo de tocar em um ouriço, daqueles bem escuros. Pouco depois, encontraram um ouriço albino. Para ficar melhor ainda, surgiu um atrevido peixe-cofre, o único predador do ouriço, que costuma soprar o espinhoso animal até ele se virar, ficando vulnerável a ataques. "É tudo tão bonito e interessante que não dá vontade de parar de mergulhar", comentou Boanerges Silvestre Bueno Neto, 12 anos. Junto com 31 colegas, Boanerges esteve recentemente na Escola do Mar, um complexo do Centro Educacional Objetivo que recebe estudantes de suas unidades de todo o Brasil para agradáveis temporadas de estudos de ecologia marinha.

No caminho de volta à escuna, o grupo foi surpreendido por outra novidade: as águas de um trecho da enseada pelo qual passara uma hora antes estavam repletas de esporos esverdeados. "É só plâncton", arriscou Ana Paula Junqueira, 13 anos, referindo-se aos pequenos animais e vegetais que vivem em suspensão em ambientes aquáticos. A turma de estudantes que ficara a bordo da escuna, fazendo pesquisas com a orientação de uma química, já havia constatado diferenças no mar, em comparação com dados colhidos em outras ocasiões, na mesma época do ano. "O pH da água está mais ácido", constatou um dos embarcados. Quando o grupo do mergulho subiu a bordo, seus excitados relatos sobre as maravilhas do fundo do mar foram intercalados por uma incômoda coceira que começou a se espalhar pelo corpo de quase todos os adolescentes. Não deu outra. Embora a irritação tivesse desaparecido com a mesma rapidez que chegara, a aula de mergulho dos que haviam ficado a bordo foi adiada. "Preferia mergulhar, mesmo para ficar coçando depois", reclamou Diogo Nogueira de Castro, 16 anos, antes de voltar para parte terrestre da escola, a antiga sede de uma fazenda do século XIX.

Naquela noite, as atividades do laboratório giraram em torno dos esporos esverdeados, cujas amostras foram analisadas ao microscópio. Descobriram que haviam cruzado seu caminho com o de milhares de larvas de poliquetas, um parente marinho da minhoca, que habitualmente vive no fundo do oceano e nas frestas dos costões. "É provável que a última ressaca tenha provocado um boom de reprodução de poliquetas", disse a professora de Planctologia Mônica Pereira Gomes. Na Escola do Mar, nem sempre os estudantes têm a oportunidade de sentir na pele fenômenos como esse, mas o ensino é sempre voltado para a prática e adaptado para o que estiver acontecendo no momento. Uma das aulas sobre ecossistema é dada na ilha Cataguases. Outra, que faz o maior sucesso entre a garotada, acontece no mangue Saco do Céu, que ganhou esse nome por causa de um organismo que abriga em profusão e, à noite, provoca o mesmo efeito na água que os vaga-lumes no céu escuro.

 

Castigo No Saco do Céu, ao mesmo tempo que conferem lições feitas antes em sala de aula e repetem com facilidade nomes de vegetação como Avicenia tormentosa, os estudantes discutem a importância do mangue como berçário de centenas de espécies. No começo, algumas meninas deixam escapar gritinhos diante dos bolsões gelatinosos que se esparramam sobre a lama. Quando aprendem que eles contêm ovas de peixes, passam a encará-los com naturalidade. Daí a pouco, estão pegando no paguro-ermitão, um crustáceo que vive dentro de conchas de moluscos, como se o fizessem no cotidiano. "Adorei o mangue", garante Tatianna Mello Fernandes, 13 anos, que em nenhum momento hesitou em colocar o pé na lama.

Único centro de estudos do gênero no Brasil, a Escola do Mar já recebeu mais de 11 mil alunos para temporadas de uma semana. Cada grupo tem, no máximo, 32 estudantes e, antes de embarcar para a primeira aula de mergulho, recebe instruções minuciosas sobre como se comportar no mar. "Quem erra em segurança de embarcação paga castigo", avisa o coordenador de projetos especiais do Objetivo, Wilson Malavazi. São dez flexões para os meninos e 20 abdominais para as meninas, mas o esmero com a segurança é tão grande que ninguém se arrisca a infringir as normas para uma navegação tranquila. Mesmo assim, enquanto a escuna Alto Astral fica no mar, duas lanchas de apoio permanecem de prontidão. Apenas numa segunda temporada, os garotos podem trocar o mergulho livre pelo semi-autônomo, quando visitam uma caverna subaquática e um navio naufragado. Criada há dez anos, a Escola do Mar é a primeira de uma série de centros de estudos do meio ambiente mantida pelo colégio, que projeta agora uma Escola do Pantanal. Além de aprimorar o ensino, a intenção é formar uma conduta ecológica, fugindo dos discursos ecochatos. "Quando a escola foi inaugurada, todo mundo falava em salvar as baleias. Agora, a onda é a Amazônia", disse o biólogo Carlos Freitas na primeira aula de ecossistema. "Vocês querem salvar o mar? Então, salvem o rio de sua cidade. Querem salvar a Amazônia? Economizem uma folha de caderno, que já estão contribuindo."