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CRUZADA Para a senadora, “o povo americano merece uma presidente que não desiste”

Quando tudo parecia estar se acabando para Hillary Clinton, ela conseguiu mais fôlego. Na semana passada, a pré-candidata democrata à Presidência americana embarcou renovada para Indiana, próxima etapa das eleições primárias do seu partido. Levou na bagagem a vitória sobre o adversário Barack Obama na Pensilvânia, o que lhe garantiu sobrevida na disputa. “O povo americano não desiste. E merece uma presidente que também não desiste”, disse. O entusiasmo de Hillary, porém, bate de frente com o cenário global da disputa pela indicação democrata, a mais acirrada dos últimos 25 anos. Em entrevista à ISTOÉ, Henry Sheinkopf, consultor do partido e integrante da equipe que levou Bill Clinton à Casa Branca em 1996, lembrou que a demora na escolha do presidenciável da agremiação está provocando exposição e exploração das debilidades dos dois candidatos. “Isso pode se revelar terrível em novembro”, disse, referindo-se à época da decisão contra o candidato republicano, John McCain. “Além de estar ganhando tempo para planejar e fortalecer seu discurso, McCain pode atacar os pontos fracos expostos por Hillary ou Obama.”

Em sintonia com as principais lideranças democratas, Sheinkopf defende que a definição entre Hillary e Obama seja feita em junho, dois meses antes da data prevista. Para isso, os chamados superdelegados, que têm direito a voto independentemente da escolha popular, precisariam antecipar sua escolha. Acabariam assim com o desgaste de uma disputa na qual a liderança de Obama não é reconhecida por uma Hillary determinada a conquistar a vaga democrata, mesmo que seu adversário tenha maior apoio popular. A aposta de Hillary agora é nos superdelegados, já que Obama tem maior poder de mobilizar novos eleitores e mais dinheiro em caixa. Com relação à contabilidade, a vitória na Pensilvânia teve reflexos diretos na conta corrente de Hillary, que fez um apelo por doações no discurso da vitória. No dia seguinte, sua campanha anunciou que havia recebido US$ 10 milhões em doações online. Nada mal para quem fechou a prestação de contas de março com um déficit de US$ 800 mil. Só que, no mesmo período, Obama tinha US$ 42 milhões em caixa.

JAE C. HONG/AP

CAIXA ALTA Obama tem maior apoio popular

ELA POR ELAS
Fria, calculista, ambiciosa, autoritária. São vários os adjetivos pouco edificantes que costumam ser dirigidos a Hillary Clinton, em especial pelas mulheres, seu eleitorado fiel. Ela própria já se definiu como um Rorschach, o teste de personalidade no qual cada um projeta suas características. Em livro que acaba de ser lançado no Brasil pela editora Larousse, Trinta olhares sobre Hillary: reflexões por escritoras, a americana Susan Morrison reúne ensaios que dissecam a democrata. Do uso de faixas de cabelo a como seu caráter foi moldado pelos anos no escritório de advocacia Rose Law Firm, no Arkansas, as escritoras não hesitam em variar a abordagem. Esbarram, porém, em uma questão instigante: por que Hillary é tão odiada? “É a voz”, arrisca Marie Brenner, repetindo o mestre da publicidade política David Garth. O detalhe sonoro pode até aguçar predisposições, mas é provável que a argumentação mais consistente seja a de Robin Givhan, ao afirmar que Hillary ainda não se transformou naquilo que as mulheres mais desejam: um ícone do poder feminino.