Quando o enfermeiro brasileiro Geraldo Cruz Pires Ribeiro, 54 anos, foi escalado pela Cruz Vermelha Internacional para prestar serviços na região do Cáucaso, no Sul da Rússia, ele sabia que estaria indo para um dos pontos mais perigosos do planeta. Mas isso não fugia à sua rotina. Funcionário da organização há 11 anos, ele está acostumado aos riscos que o trabalho envolve. Já cumpriu mais de 50 missões, em países tumultuados como Angola, Afeganistão, Moçambique e Tadjiquistão. Só que desta vez está enfrentando uma situação extremamente delicada. No sábado 15, Ribeiro foi sequestrado por três homens armados que, até a quinta-feira 20, ainda não haviam pedido resgate. Não se sabe se o grupo que o levou tem motivações políticas ou se são criminosos comuns. "O pior de tudo é a falta de notícias", disse Adriana Verdeiros, irmã mais nova de Ribeiro.

O enfermeiro estava baseado desde o final do ano passado na cidade de Naltchik, na República Autônoma de Kabardino-Balkária, dentro da Federação Russa. A cidade fica a apenas 150 quilômetros da explosiva República da Chechênia, palco de uma sangrenta guerra separatista e território onde a entrada de estrangeiros é altamente desaconselhável, porque eles são o principal alvo de sequestros. Ribeiro foi capturado quando saía de um hospital num lugarejo fora de Naltchik, perto da fronteira chechena, onde acabara de ministrar um curso de primeiros socorros. Ele foi levado junto com sua assistente e intérprete russa, mais tarde encontrada amarrada, porém sem ferimentos. A ambulância onde os dois viajavam foi localizada totalmente depredada. Segundo informações obtidas pela embaixada brasileira em Moscou, o enfermeiro não teria sido levado à Chechênia, o que, se confirmado, já é uma boa notícia. Isso porque os chechenos têm fama de serem impiedosos. No ano passado, três britânicos e um neozelandês sequestrados na república separatista foram encontrados decapitados depois que policiais russos tentaram resgatá-los. Em 1997, seis funcionários da Cruz Vermelha foram assassinados num hospital.

Não é a primeira vez que Ribeiro, natural de Juiz de Fora, Minas Gerais, passa por apuros. Em 1971, então membro da Juventude Estudantil Católica (JEC), uma organização da esquerda cristã que combatia a ditadura, Ribeiro tornou-se procurado pela polícia e se refugiou num convento dominicano no Espírito Santo. De lá, viajou para o Rio Grande do Sul e depois para o exílio no Chile. Em 1973, logo após o golpe do general Augusto Pinochet, Ribeiro conseguiu fugir do país com a ajuda da Cruz Vermelha Internacional e ir para a Nova Zelândia. Ele mora lá desde essa época e tem dupla nacionalidade. "Ele deve sua vida à Cruz Vermelha e é por isso que trabalha lá", explicou Tomás, 27 anos, filho único de Ribeiro e sua ex-mulher, uma chilena. Falando em inglês, Tomás, que vive na Nova Zelândia e está de férias em Brasília, disse a ISTOÉ que um dos maiores sonhos do pai é voltar ao Brasil. "Há muito tempo ele tenta ser reintegrado à Caixa Econômica Federal, onde trabalhava antes de se exilar." Ele descreve o pai como uma pessoa tranquila, bem-humorada e determinada. "Ele não desiste das coisas facilmente."

A família do enfermeiro em Juiz de Fora está esperançosa, mas também muito apreensiva e angustiada. A mãe, Maria Olga, que não vê o filho há dois anos, chora o dia inteiro.