As relações entre a prefeitura paulistana e a Câmara Municipal se transformaram em um autêntico rodízio de pizzas. A última a sair do forno foi suficiente para satisfazer o mais voraz dos apetites: encerrou o processo de cassação do prefeito Celso Pitta, impossibilitou a continuidade da Comissão Parlamentar de Inquérito que apura a corrupção municipal e impediu a abertura de outra CPI, que investigaria apenas a emissão irregular de títulos públicos. Na mesma rodada, servida na quinta-feira 20, a convocação do ex-prefeito Paulo Maluf e seu sucessor para explicar irregularidades em suas gestões se transformou em um cordial convite.

Três dias antes, Maluf e Pitta haviam protagonizado cenas dignas de uma comédia de costumes. Ao desembarcar de uma temporada em Mônaco e Paris, Maluf respondeu às acusações de que estaria articulando a cassação de Pitta, feitas pelo próprio. "Ele é uma pessoa mentirosa. Para não sofrer o impeachment, precisa trabalhar, acordar cedo e dormir tarde", disparou Maluf. "Isso é típico de senhor feudal, que condiz com o autor da célebre frase de que ‘preto também pode ser
bom prefeito’", respondeu Pitta. A troca de desaforos fez parte da estratégia de defesa de ambos. Eles não atacam os pontos nevrálgicos de suas administrações. Batem apenas nos deslizes já conhecidos.

Enquanto criatura e criador jogavam para a platéia, emissários seus colocavam lenha no forno da pizzaria. No balcão, entraram em jogo até cinco secretarias municipais. Uma delas, que cuida do rendoso setor de obras, foi oferecida ao presidente da Câmara, Armando Mellão. O vereador jura que não aceitou. Os governistas levaram a rodada por 30 a 19. Entre os 30 vereadores que foram contra o impeachment, dois estão sendo investigados por participação no esquema da propina e outros seis estão na mira da polícia. De olho nas próximas eleições, a oposição também fez corpo mole, interessada em arrastar Pitta, como um cadáver político, até outubro do ano que vem. O PT não fez o barulho que costuma fazer e o PSDB conseguiu ir além. Dos oito vereadores tucanos, três faltaram à sessão decisiva.

Depois da encenação com Pitta, Maluf só veio a público na quinta-feira, no programa de tevê do PPB, do qual é presidente nacional. Não tocou nos problemas do partido em São Paulo. Preferiu enfocar as mazelas federais, afirmando que o governo FHC admite o funcionamento de um cassino financeiro. "Quem entende de cassino é Maluf, que não poderia ter usado o programa para expressar frustrações e ressentimentos pessoais", revidou o ministro do Trabalho, Francisco Dornelles (PPB). Pitta nem teve tempo de acompanhar a tréplica. Estava preocupado em encaminhar na Câmara a rolagem de uma dívida de R$ 7,7 bilhões com o governo federal. Adiando o pagamento, fica com quase R$ 500 milhões por ano para aplicar em sua administração. O otimismo é tanto que, à revelia das lideranças nacionais, um integrante da executiva municipal do PSB entregou a Pitta (sem partido) uma ficha de filiação, na sexta-feira 21. Não faltarão ofertas ao prefeito.


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