Tempos estranhos assolam o mundo! Causou, no mínimo, surpresa global a comemoração eufórica, desmedida até – com direito a fogos de artifício, shows e demonstrações abertas de carinho para com os soldados –, que se seguiu ao golpe militar para depor o primeiro presidente democraticamente eleito no Egito. A queda de um governante por meio das armas configura, por si só, uma grave violação das regras do jogo e das liberdades. Ainda mais nos tempos atuais e em se tratando de um chefe de nação escolhido diretamente nas urnas. No caleidoscópio de várias nuances do povo egípcio, os militares execrados de outrora – que por seis décadas mandaram ali – voltaram como heróis porque a administração de Mohamed Mursi lançou o país no caos econômico e social. Mursi buscou se manter no cargo assumindo enormes poderes por decreto e promulgando uma nova Constituição. Converteu-se em ditador e saiu desmoralizado em meio a um tour de force que mistura política e religião. Também sofreu uma desmoralização internacional, por razões distintas, o presidente da Bolívia, Evo Morales, cujo avião foi impedido, absurdamente, de sobrevoar o espaço aéreo de países europeus como França, Itália, Espanha e Portugal, e acabou retido na Áustria. O bloqueio, em forma de boicote ao boliviano, pareceu atender a interesses americanos que tentam repatriar um ex-funcionário da CIA, Edward Snowden, acusado de vazar informações secretas do grupo de espionagem dos EUA. A decisão de forçar o pouso do avião de Morales e vasculhá-lo para capturar Snowden fere de forma gritante todos os tratados de relações internacionais ao ignorar a imunidade diplomática de Morales e de sua aeronave. Um ato praticado em nome de países que se dizem desenvolvidos e democráticos. O conceito não parece estar muito em voga por aquelas bandas. Mas a democracia no canto de cá do mundo, nas fronteiras brasileiras, também anda reavaliando seu papel e medindo forças. Após a decisão malsucedida de criar uma constituinte exclusiva para realizar uma reforma política, a presidenta Dilma não tem logrado êxito na ideia de um plebiscito para tratar do assunto. Há quase duas décadas se batalha no País por uma reforma que moralize a atividade política. Todos falam de sua importância, mas poucos parecem realmente motivados em realizá-la. Um muro de obstáculos – que mistura alegações como a dificuldade popular de compreensão do tema e até a falta de tempo para colocar o projeto de pé para as eleições de 2014 – foi erguido. No ambiente dos que mandam, reforma política e plebiscito têm pouco apelo e tendem a cair no esquecimento. A opinião pública vem sendo a força motriz a empurrar o País rumo às mudanças. Precisa ser, de novo, acionada. A consulta às ruas por meio de plebiscito é um recurso válido, democrático – com apoio de 68% da população –, que deveria engajar todas as autoridades para a sua realização. Mas, em tempos estranhos como esse, políticos desconversam e esquecem do perigo de contrariar as massas. 


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