Bem que poderia existir um manual perfeito para educar filhos. Como, infelizmente, trata-se de uma utopia, qualquer fato que diz respeito à educação de crianças pode criar uma tremenda polêmica: a insegurança dos pais vem logo à tona. Como está acontecendo com o caso do bebê barrado na Sala Cecília Meireles, no Rio. Marcos Dessaune, empresário, produtor artístico e marido da pianista clássica Paula da Matta, levou a filha Luisa, de apenas quatro meses, para assistir a um concerto da Sala Cecília Meireles e ambos foram barrados. Marcos tentou falar com o diretor do teatro e nada. Os seguranças o expulsaram do lugar. Ele foi com o bebê à delegacia dar queixa. Ninguém deu bola. Agora, o juiz titular da 1ª Vara de Infância e Juventude do Rio, Siro Darlan, deu parecer favorável a Marcos e encaminhou ao Ministério Público um inquérito contra o teatro e contra a delegacia por omissão. O episódio deu a maior repercussão e acabou no Fantástico. Mais ainda, no final do programa, os telespectadores escolheram o caso dele para ser discutido neste próximo domingo 6.

Os argumentos de Marcos parecem imbatíveis. “Barrar um bebê calado achando que ele poderá chorar é o mesmo que reter celulares do público com a presunção de que um deles poderá tocar ou expulsar uma pessoa gripada por imaginar que ela pode espirrar ou tossir durante o espetáculo. A lei permite a entrada de crianças em qualquer lugar, desde que acompanhada pelos pais. Se o ambiente escolhido for impróprio, os pais arcam com as consequências legais. Luisa ouve música clássica desde quando estava na barriga da mãe. Por isso, Marcos sabia que ela não iria estranhar o ambiente. Daí a recorrer à lei que o protege e, claro, ao seu bom senso. Além do mais, o show era às 18h. “Minha filha dorme sempre às 21h, tem a sua rotina comum de criança”, rebate.

A psicóloga infantil Ana Olmos confessa que o caso de Marcos é uma exceção e aplaudiu a decisão do juiz. “Os dois usaram o bom senso. Algo pouco comum”, afirma a psicóloga, acostumada a ver em seu consultório casos difíceis de pais que levam crianças para festas noturnas, sem saber o quanto podem prejudicar os pequenos. “As baladas de adultos irritam as crianças. Elas devem ter uma rotina para se sentirem seguras. Caso contrário, a criança perde a noção de realidade e os problemas acabam aparecendo um dia”, diz. Tanto faz levar a uma festa como deixar os baixinhos verem tevê até a madrugada. Ou ainda levá-los a restaurantes à noite. A dentista Cynthia Ribeiro leva a filha Tamara, três anos, aonde for.“Se vou a um restaurante levo a Tamara. Quando cansa, junto duas cadeiras e ela dorme”, conta sem preocupação. A polêmica sobre o “caso Marcos” esbarra nesse ponto: elas podem ou não viver em lugares de adultos? O negócio é que nem sempre os pais resistem quando a criança faz escândalos para sair com eles. “Um ‘não’ firme e seguro ainda é a melhor forma de demonstrar amor”, garante Ana Olmos.