Como entender as mulheres? Desvendar a psiquê feminina nunca foi fácil para eles. Nem para elas. Mas há quem garanta que um passeio ao Olimpo, a morada dos deuses na mitologia grega, ajuda a esclarecer muitas dúvidas. É que todas as mulheres carregariam dentro de si uma deusa grega. Podem ser Hera, Deméter, Afrodite, Coré, Perséfone, Atena, Ártemis ou um pouco de cada uma. A tese faz parte do trabalho de mestrado da psicóloga paulista Márcia Portazio. Ela ouviu 224 paulistanas entre 17 e 55 anos para estabelecer um meio eficaz de identificação de padrões de comportamento feminino. A conclusão da psicóloga é de que as brasileiras incorporaram Atena, a deusa da sabedoria e das artes. Isso quer dizer que elas estão mais voltadas para o desenvolvimento profissional e intelectual e já não têm como prioridade casar e ter filhos.

Márcia acha compreensível que, para ocupar o seu espaço em um mundo patriarcal, a mulher tenha caminhado em direção a um modelo masculino, mais racional e intelectual. Ela ressalta, no entanto, que o importante é reunir um pouco de cada um desses modelos em busca do equilíbrio. “Quando valorizamos apenas um arquétipo, não estamos dando a devida atenção a partes relevantes da nossa individualidade, seja num momento pontual ou durante toda a vida”, explica a psicóloga. Para as céticas, ela avisa: a negação sistemática de características essencialmente femininas pode acabar até em doença. “Não podemos nos transformar em verdadeiras medusas (mulher mitológica que tinha serpentes no lugar dos cabelos) petrificando as relações e as pessoas”, brinca a pesquisadora.

Enquanto 24,4% das entrevistadas estão voltadas para a vida profissional, 20,3% ainda se comportam como a ingênua Coré, a donzela superprotegida pela mãe. A classificação levou em conta o tipo psicológico e o histórico de vida das mulheres. “Geralmente, há identificação com dois arquétipos. Um deles é sempre predominante e o outro está vinculado a momentos ou situações de vida específicos”, afirma Márcia. É comum o tipo Coré, por exemplo, aparecer em jovens, ainda sem grande definição de identidade. Na pesquisa, 47,3% das mulheres tinham entre 17 e 25 anos.

O curioso é Afrodite, a deusa do amor e da beleza, aparecer com 18,3%, empatada com Deméter, que rege a maternidade. Apesar da exaltação da mídia ao corpo perfeito e da competição de silicones, as mulheres mostram que não se sentem tão submetidas à ditadura da estética. Também é interessante notar que, em plena onda new age, apenas 6,6% delas se identifiquem com a mística Perséfone – a deusa que transita entre o mundo dos vivos e dos mortos. Em último lugar, com 6,1%, outra surpresa. Juntas aparecem a deusa do casamento, Hera, e a filha mais independente de Zeus, Ártemis – ou Diana, a caçadora, como a chamavam os romanos. Parece que as mulheres não estão querendo nem a união convencional nem a auto-suficiência de Ártemis, que prescindia de companheiros. Conclusão: decifrar o universo feminino continua sendo uma prerrogativa divina.

 

 

 

 

 

Quando a psicóloga Marcia Portazio começou a fazer uma pesquisa sobre o comportamento feminino para o seu mestrado, ela se surpreendeu com o interesse que os questionários despertavam. Em apenas dois meses, obteve 224 perfis. “Uma pessoa respondia e despertava o interesse de outra”, conta. Mas isso não é tão surpreendente assim. Afinal, a alma feminina sempre provocou curiosidade.