O presidenciável Tasso Jereissati recebeu um duro golpe em suas pretensões. Sérgio Machado, seu conterrâneo e líder de seu partido, o PSDB, no Senado, classificou o projeto de desenvolvimento do governador para o Estado do Ceará como pífio. Os ataques feitos pelo senador, em nota oficial de 20 linhas, emitida na segunda-feira 2, serviu para acirrar ainda mais a crise na bancada tucana cearense. A crítica repercutiu como uma declaração de guerra entre os dois desafetos. Machado acusou o governo Tasso de falta de humildade para reconhecer os erros e de gastar muito dinheiro em projetos que estão paralisados.

Sérgio Machado dispara: “É hora de o governo (de Tasso) reconhecer que não é o dono da verdade e abrir as portas à participação para discutir uma proposta concreta de desenvolvimento com as comunidades de todo o Ceará.” Para ele, o plano econômico de Jereissati não passa de uma lista de protocolos de intenções, que “pouco significa”. Nas contas do senador, são mais de 500 assinaturas de protocolos, “inclusive o da refinaria e o da siderúrgica, proporcionais à publicidade que vem sendo feita”. O Complexo Industrial do Pecém, por exemplo, “começou de trás para a frente”, afirma. Isso quer dizer que o Porto do Pecém só teria sentido se houvesse a refinaria e a siderúrgica, anunciadas na véspera da última eleição para governador. No entanto, esses dois empreendimentos ainda não saíram do papel. “De que adianta o Complexo Industrial do Pecém parado? Já consumiu mais de 200 milhões de reais e vai servir para quê?”, provoca.

Machado aguardou as reações. E esquivou-se de entrevistas sob o argumento de que não interessa acirrar mais os ânimos. Pelo menos agora. No Ceará, o governador também preferiu o silêncio. O ex-ministro Ciro Gomes (PPS), aliado de Tasso e um dos expoentes desse projeto de desenvolvimento, seguiu a mesma linha. Para os tucanos ligados a Tasso, responder às críticas é dar ao senador munição para suas pretensões eleitorais ao governo do Ceará em 2002.

Hoje, o líder tucano no Senado é a pedra no sapato de Tasso Jereissati. Mas nem sempre foi assim. Em 1986, Machado era o articulador político da primeira campanha do governador. Na época, os dois faziam parte do grupo de industriais cearenses que derrotou nas urnas os coronéis, criando uma expectativa de renovação no Estado. A tônica central da campanha era a modernidade e o combate à miséria. A amizade política azedou quando, por duas vezes (1990 e 1998), Sérgio Machado foi rechaçado como candidato ao governo do Ceará. O senador, a partir desse momento, passou a trabalhar sozinho. Apoiou na eleição passada a candidatura de Moroni Torgan (PFL) à Prefeitura de Fortaleza. O grupo de Tasso Jereissati trabalhou pela eleição de Patrícia Gomes (PPS), ex-mulher de Ciro.

As manobras políticas do senador ganharam dimensão nacional. Em fevereiro passado, costurou um acordo que assegurou a vitória de Jader Barbalho (PMDB) no Senado e de Aécio Neves (PSDB) na Câmara, isolando o PFL de Antônio Carlos Magalhães, principal defensor da candidatura de Tasso ao Planalto. De quebra, foi reconduzido pela quarta vez à liderança do partido no Senado.