Desde o lançamento do Viagra, o primeiro remédio para tratar a disfunção erétil masculina, em 1998, a indústria farmacêutica procura persistentemente um medicamento que seja capaz de ajudar as mulheres que enfrentam a falta de desejo sexual.

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O que insufla o desejo das companhias de achar uma substância em cápsulas, gel ou injetável para melhorar a disposição feminina para o sexo — além das boas intenções médicas — é o potencial desse mercado, avaliado em US$ 4 bilhões por ano.

O último avanço nessa corrida foi o anúncio feito recentemente pelo pesquisador holandês Adriaan Tuiten, que lidera estudos promissores nesse campo. Ele avisou ao mercado que entregará no final de agosto ao FDA, agência americana que regulamenta medicamentos, os resultados finais e positivos dos testes feitos com um remédio projetado por sua companhia, a Emotional Brain, para estimular a vontade de praticar sexo.

“Obtive respostas muito boas com as duas versões dos remédios que desenvolvemos, na estimulação do desejo e do orgasmo feminino”, disse Tuiten em entrevista à ISTOÉ. As drogas chamam-se Lybrido e Lybridos.

Na próxima fase de testes, ambos serão ministrados a 1.200 mulheres nos Estados Unidos para avaliar sua segurança e eficácia. O medicamento está sendo avaliado também na Holanda e outros países europeus.

“Levamos em conta os achados da genética e novas informações sobre processos intracelulares”, diz Tuiten. “Essas informações foram consideradas para desenvolver medicamentos que atendam mulheres que respondem de forma diferenciada aos tratamentos.” Por isso, os medicamentos de Tuiten possuem pequenas diferenças entre si que foram detalhas em três estudos publicados na edição de março deste ano na prestigiosa revista científica Journal of Sexual Medicine.

“O Lybrido se destina às mulheres que teriam baixo desejo sexual por causa de uma insensibilidade aos estímulos sexuais”, diz o pesquisador.

Na fórmula, ambos possuem doses da mesma substância contida no Viagra, o sildenafil. A droga bloqueia a ação de uma enzima chamada PDE 5, estimulando a irrigação sanguínea que prepara os genitais para o sexo. Têm também 0,5 mg de testosterona, hormônio que aumenta a motivação sexual (por um período de até 4 horas após o pico de concentração máxima da droga no sangue).

O que os diferencia é que o Lybridos conta com a adição da substância buspirona, que reduz a ansiedade.

O médico Marco Scanavino, pesquisador em sexualidade humana do Instituto de Psiquiatra da Universidade de São Paulo, acha promissora a estratégia do cientista holandês. “Ele considerou teorias que relacionam as nuances da química cerebral às respostas sexuais femininas”, diz Scanavino.

A repercussão do anúncio feito por Tuiten fez disparar os telefones dos terapeutas sexuais, que tiveram de explicar às suas clientes que o remédio ainda está em pesquisa e deve demorar no mínimo dois anos – ou até um pouco mais — para chegar ao mercado.

De fato, é cedo para fazer previsões sobre o sucesso desse remédio em duas versões. “Anteriormente, vários medicamentos para tratar a baixa de desejo da mulher apresentaram problemas, como intensos efeitos colaterais, quando foram avaliados em maior número de pessoas”, diz o psiquiatra Scanavino.

O que mais está em pesquisa

No FDA, outras descobertas esperam liberação para avançar em testes ou serem comercializadas. Uma delas é a substância flibanserin, que mostrou resultados positivos em testes com 1, 1 mil mulheres na faixa dos 36,6 anos com duração de 24 semanas.

Depois de tentar a aprovação em 2010 sem sucesso, no começo deste ano, a Sprout Pharmaceuticals decidiu submeter o flibanserin novamente à aprovação do FDA para que possa ser ministrado a mulheres na pré-menopausa com o tal Transtorno do Desejo Sexual Hipoativo.

Há também o LibiGel, um gel à base do hormônio masculino testosterona para ser aplicado uma vez por dia na parte superior do braço. Seu objetivo é tratar a disfunção sexual feminina em mulheres na menopausa.

Atualmente, o remédio passa por testes para avaliar se aumenta ou não o risco de problemas cardiovasculares e de câncer de mama. Está sendo feito também um estudo amplo para tirar a dúvida sobre o quanto o remédio é melhor do que medicações placebo (sem efeito). O motivo disso é que a quantidade de mulheres que melhoraram com medicações sem efeito em comparação ao remédio foi maior do que se esperava na última pesquisa.  Por isso, o FDA pediu mais dados.

Estudam-se também os riscos do Orgasmatron, um dispositivo implantado nas costas da pessoa para disparar estímulos elétricos na medula espinhal.

Outro produto em investigação é a substância bremelanotide, que imita o hormônio melanotrófico (MSH). Em testes anteriores com a droga acondicionada em comprimidos, provocou sérios efeitos colaterais, como fortes náuseas e aumento da pressão arterial. Agora o remédio está sendo avaliado na forma de injeção.

Questões polêmicas

Há muito debate sobre a falta de desejo feminino. Uma parte dos médicos considera a indisposição persistente ou recorrente das mulheres para o sexo como um problema psiquiátrico e relacionado ao desequilíbrio de substâncias químicas do cérebro. É o que chamam de transtorno ou desordem do desejo hipoativo.

Os defensores desta tese afirmam que o desenvolvimento de drogas para elevar o desejo seria uma solução mais rápida e mais barata do que a terapia psicossexual.

Outra parcela vê nesse enfoque um caminho para a medicalização de sinais e sintomas cujas causas vão além das dosagens de neurotransmissores (as substâncias que atuam na troca de mensagens químicas no cérebro) e outros hormônios. Argumentam, por exemplo, que os mecanismos da excitação e do orgasmo feminino são bastante complexos, envolvem múltiplos fatores e ainda não foram completamente entendidos pela ciência.

A discussão está longe de acabar e tem impacto na forma como o problema é estudado. Nos Estados Unidos, por exemplo, o Lybridos foi dado apenas a mulheres casadas, para evitar que variáveis como a troca de parceiro sexual pudessem interferir na intensidade do desejo manifestado pela mulher.

O que é a falta de desejo 

Principais sinais 

– Falta persistente ou recorrente de vontade de fazer sexo, levando ao sofrimento, angústia e dificuldades pessoais.
– As disfunções sexuais podem se apresentar também como dor durante o período de estimulação ou na penetração vaginal, dificuldade de manter a excitação ou de atingir o orgasmo.

O que dizem as estatísticas

– Elas variam segundo o país, sua cultura, a idade das mulheres e os métodos de pesquisa.
– Nos Estados Unidos, os estudos mostram que até 15% das mulheres com idades entre 20 e 60 anos não têm vontade de fazer sexo ou sentem dificuldade em manter o desejo.
– No Brasil, estudo apontou que 5,8% das mulheres entre 18 e 25 anos não têm desejo. Para maiores de 60 anos, o índice alcança 19,9 (Estudo da Vida Sexual do Brasileiro).