Se você tivesse 81 anos, mais de US$ 25 milhões e construído por quatro décadas a maior indústria de autopeças da América Latina, iria querer fazer o quê? Gozar a vida? Pois é, mas o empresário Abraham Kasinski, ex-presidente da Cofap, não se conforma com a vida mansa. Depois de enfrentar uma briga familiar das mais bravas pelo controle da empresa em meados da década de 90 e de ter sido obrigado a vendê-la por causa dos prejuízos acumulados, Kasinski até pensou em aposentar os ternos e as gravatas. "Fiquei seis meses sem fazer nada. Acabei com tédio. Preciso de sarna para me coçar", brinca o industrial. Propostas de novos negócios chegam todos os dias para este descendente de judeus russos, mas ele optou agora por montar motocicletas. Comprou no final de 1998 a Hyosung do Brasil, uma filial da multinacional coreana que precisava de capital para crescer, modificou o nome para Companhia Fabricadora de Veículos (Cofave) e adotou a marca Kasinski a fim de emprestar-lhe a própria credibilidade. Hoje monta 400 mil motos por mês. A explicação pela empreitada é simples: motocicletas são o único ramo da indústria automobilística brasileira que não sofre com as fortes oscilações do mercado. Enquanto a produção de carros, ônibus e caminhões caiu 24% entre 1997 e 1998, a de motocicletas cresceu 11,5%. Isso porque uma moto nova barata custa cerca de R$ 2,3 mil contra os R$ 9 mil do carro popular mais em conta.

O negócio todo parece uma brincadeira de milionário. Kasinski até admite que nunca andou de moto – "Me pelo de medo." No entanto, ele administra o empreendimento com profissionalismo. No fim de semana passado, por exemplo, reuniu em São Paulo 40 dos 100 distribuidores que pretende ter em todo o País e fez a promessa. "Os pedidos que a Cofave receber de peças sobressalentes serão devidamente processados e encaminhados em no máximo duas horas." Uma das apostas do empresário é justamente agilidade na distribuição e no atendimento aos concessionários e consumidores. Até agora a Cofave investiu apenas US$ 7 milhões na unidade de quatro mil metros quadrados em Manaus, onde quatro modelos são montados. Mas a meta é injetar até US$ 70 milhões. Na quarta-feira 12, por exemplo, o empresário viajou para a zona franca a fim de negociar a compra de um terreno de dez mil metros quadrados. "Precisamos de mais espaço. As motos são só o começo. Vamos montar utilitários de três rodas e mais tarde veículos de passeio", ressalta. Um contrato foi firmado com a empresa indiana Bajaj para fazer várias versões de um triciclo no Brasil, que já vendeu um milhão de unidades na Índia e outras 500 estão em uso pela polícia de Nova York. "Para o Brasil, a gente negociou adaptações, como a substituição da partida manual pela automática." O preço, mais uma vez, é o ponto mais importante na estratégia. Os triciclos, que carregam até 450 quilos e funcionam também como minivans, serão vendidos por cerca de R$ 4 mil a partir do segundo semestre e em até 50 prestações. O foco de Kasinski são os 120 milhões de brasileiros que vivem hoje à margem da indústria automobilística. Dentro de um ano, ele quer estar montando 1.200 veículos. Medo de quebrar? "Aí, eu não fazia nada." É verdade que existe um bom colchão de dinheiro a protegê-lo.