O novo refúgio de inverno dos brasileiros ricos e famosos fica a 88 quilômetros das praias de Vitória. A região de Pedra Azul, município de Domingos Martins, nas montanhas do Espírito Santo, colonizada por sem-terra pomeranos e italianos no século passado, despertou o interesse do presidente das Organizações Globo, Roberto Marinho, do ex-ministro das Minas e Energia Eliezer Batista, do cantor Roberto Carlos e da princesa Regnild, da Noruega. Todos garantiram seu lote nesse recanto de tranquilidade, temperatura agradável – a média é de 12 graus centígrados que chega a zero no inverno –, áreas verdes preservadas, riachos de águas límpidas e dezenas de cachoeiras. A chegada dos notáveis inflacionou o mercado imobiliário, valorizando os terrenos com vista para a Pedra Azul, que tem 1.822 metros de altura, e é o símbolo da região serrana do Estado.

As belezas naturais capixabas ganharam notoriedade por causa da lama. Explica-se. Conta-se que certo dia Eliezer Batista atolou o carro numa estrada da região e encontrou o empresário americano Chaffee Earl. Os dois começaram a conversar sobre as potencialidades do lugar. O americano comprou vários terrenos na região. Batista adquiriu um lote, construiu uma casa e convidou os amigos ricos a fazer o mesmo. Segundo os marqueteiros locais, o clima é o terceiro melhor do mundo. "Foi o dr. Eliezer quem disse isso. Ninguém discute. O problema é que agora há regiões vizinhas disputando o segundo lugar", conta Roberto Galvêas, proprietário do Hotel Eco da Floresta.

Há três anos, nos meses de agosto, é realizado em Pedra Azul o Encontro Internacional do Vinho, o maior do gênero no País. Para o organizador, Roberto Serpa, a temperatura contribui para a vinda de mais de 600 pessoas. "No evento passado chegou a seis graus, nada melhor para se apreciar a bebida", diz. A região possui cinco hotéis de alto nível. O Hotel Pousada Pedra Azul tem uma localização estratégica. Fica na entrada do Parque Estadual da Pedra Azul. O prédio é um projeto do arquiteto Zanine – que, como é de seu estilo, valorizou a madeira, além da topografia do terreno acidentado. "Apesar de muitos brasileiros desconhecerem a região de montanha do Estado, hospedamos gente da América Latina e da Europa", afirma o gerente, Aloisio Almeida.

Quem também costuma passar temporadas na região é a empresária, e nora de Eliezer, Luma de Oliveira. No terreno dos Batista há um grande lago. As águas descem para o lote de baixo, de propriedade da família Marinho, formando uma cachoeira. Roberto Marinho planeja construir uma mansão no local. O projeto prevê 14 apartamentos, todos com hall de entrada privativo. No interior da construção será formado um jardim de inverno. A descendente de alemães Erminda Stanger é vizinha do dono das Organizações Globo. Ela e sua família vivem da plantação de tomates. O filho Izaurino, 12 anos, gosta de mostrar aos visitantes a queda d’água do "Seu Meirinho", como chamam o vizinho famoso.

Ao lado de mansões e hotéis requintados, alguns agricultores especializaram-se em oferecer café colonial. Ana Júlia Donna e o marido, Antônio Girardi, vizinhos da princesa Regnild, construíram uma capela no sítio para Nossa Senhora do Divino Pranto. Há quatro anos largaram a lavoura e a pecuária para vender café às pessoas que apareciam para ver o templo. "Começamos com cinco mesas. No ano passado mais de seis mil pessoas tomaram café conosco."

O Parque Estadual da Pedra Azul é a maior referência das montanhas capixabas. A reserva abriga centenas de bromélias, orquídeas e animais silvestres. Uma trilha de 945 metros leva à Pedra Azul, tomada por líquens – algas e fungos – que dão ao rochedo, em dias de sol, uma coloração verde-azulada, daí o nome. A trilha das Piscinas, com 1,2 quilômetro, leva aos nove poços escavados na rocha pela ação das águas. Para alcançá-los, o turista sobe apoiado por uma corda para vencer 95 metros de paredão. O declive chega a 60 graus. O esforço é compensado com um banho nas águas frias e cristalinas.

A região foi colonizada por dez etnias. Na sede de Santa Leopoldina, município vizinho a Domingos Martins, resistem ao tempo as casas em estilo anglo-saxão, dos ricos alemães do século passado. Foi esse cenário que inspirou o escritor Graça Aranha a escrever o clássico brasileiro Canaã. O livro narra a saga da imigração. As placas que indicam os povoados da região parecem localizar os caminhos da Europa. Indicam a direção de cidades com nomes significativos como Holanda e Luxemburgo, além do lago da Suíça e das montanhas do Tirol. Os portugueses estão presentes em Fumaça. Atravessando a terra lusa, repleta de cachoeiras, chega-se em Holanda. As casas brancas de janelas e portas laranja guardam a cor da Coroa Real Holandesa. A 59 quilômetros de Santa Leopoldina, se avista a torre alpina da igreja do Tirol, de 1897, no reduto dos austríacos.

No caminho para Luxemburgo estão os núcleos pomeranos de Califórnia e Bragança. A casa pomerana é sempre branca com as janelas e portas azuis, cores da bandeira da província. Em Luxemburgo moram 40 famílias. Metade é luterana; a outra parte, católica. O casarão dos Entringer é o mais suntuoso. Clementina Schultz Entringer vive com o marido, Luís, na casa. Ele é descendente de luxemburgueses. Ela nasceu em Suíça, a 11 quilômetros dali. A maioria dos descendentes de suíços já se foi, dando lugar aos belgas. Já os poloneses, escolheram morar em Caramuru. É o mundo ao redor da Pedra Azul.