Com um rugido estrondoso, soltando fogo pelo rabo, o F-16 desliza pela pista de Aviano, na Itália. Um leve toque no manche e o caça sobe ao céu. Enquanto recolho o trem de pouso e os flaps, repasso mentalmente os detalhes da minha missão. Meu alvo prioritário é uma ponte sobre o rio Danúbio, no coração da Iugoslávia. Mais uma vez os Bálcãs estão em polvorosa. Extremistas sérvios assumiram o poder com um golpe de Estado, provocando a intervenção da Otan.

Estabilizo o caça na altitude de 12 mil pés e tomo o rumo leste. Mantenho o radar desligado para não denunciar minha presença às baterias de mísseis terra-ar. Vasculho o horizonte em busca dos Mirages e Migs inimigos, mas o céu está tranquilo. Logo eu e meu ala estaremos sobre o alvo. Sob meu comando tenho um F-16C Falcon, uma tetéia dos ares fabricada pela Lockheed Martin, um dos mais versáteis caças táticos do mundo, altamente manobrável e veloz, um guerreiro capaz de combater no espaço aéreo mais hostil. O momento se aproxima. Desço para sete mil pés. Faço uma última checagem no meu arsenal: 480 tiros de canhão, seis mísseis Sidewinder, dois mísseis guiados por radar, duas bombas Mk-84 teleguiadas. Ligo o radar para localizar o alvo e entro em vôo picado. Vai ser um estouro.

Na verdade, estou vivendo uma simulação digital criada pela NovaLogic e publicado pela Brasoft – o game F-16 Multirole Fighter (R$ 49). Meu caça é uma máquina virtual gerada por um software e meu cockpit é o computador. O realismo é sensacional.

Os simuladores de guerra tornaram-se uma mania. E estão ficando cada vez mais populares desde que a Otan desencadeou os ataques aéreos à Iugoslávia. Praticamente todos os aviões em ação nos Bálcãs, incluindo o bombardeiro B-2 e o caça F-117, têm seu similar virtual. É mais um milagre da informática, com som surround, combates aéreos via modem e cenários tridimensionais que reproduzem com realismo a topografia do terreno. Até mesmo o F-22 Raptor, um avião que ainda não entrou em operação, pode ser pilotado virtualmente.

O caso do F-22 é curioso. Projetado para substituir o F-15 como caça de superioridade aérea, o F-22 atualmente está sendo testado pela Força Aérea dos EUA. Os primeiros aviões só entrarão em serviço em 2004, ao preço de mais de US$ 70 milhões cada. Na época da guerra fria, o desenvolvimento de uma nova arma como esta seria classificado como top secret, mas hoje os tempos são outros e qualquer piloto sérvio ou iraquiano, por exemplo, pode ter em casa um simulador do F-22 e ver como ele é fácil de pilotar, duro de abater e mortal a qualquer inimigo que se meter a besta. Esse caça furtivo ao radar (stealth) é capaz de voar acima de Mach 1,5 por um longo período e sua tecnologia inclui, por exemplo, um "cérebro" central com uma capacidade equivalente a de dois supercomputadores. Para dar ao F-22 Lightning II (R$ 19) o máximo de realismo técnico, os programadores da NovaLogic contaram inclusive com a colaboração da própria Lockheed Martin.

Distribuído no Brasil pela Brasoft, o jogo já vendeu mais de 50 mil unidades. Mas não é o único. Existem pelo menos outros quatro simuladores do F-22, incluindo o Total Air War, da Digital Image Design (editado pela Infogrames por R$ 59), onde o caça atua no Oriente Médio, e o Jane’s Fleet Command, da Electronic Arts, que tem um arsenal de oito aviões com os quais se pode reviver desde combates no Vietnã aos ataques aéreos na Iugoslávia. Por mais de 100 anos, a editora Jane’s vem publicando notícias sobre equipamentos militares. Esse pessoal, portanto, não brinca em serviço. Através de mapas digitais e fotos de satélites, os programadores da Electronic Arts – a divisão de entretenimento da Jane’s – conseguiram duplicar em detalhes a região dos Bálcãs que os pilotos da Otan estão sobrevoando. Montanhas, rios, vales e cidades surgem com um realismo impressionante. Outra vantagem é que se por engano você atingir a Embaixada da China em Belgrado, ninguém vai reclamar.