A prisão do auxiliar de enfermagem Edson Izidoro Guimarães, na sexta-feira 7, acusado da morte de 131 pessoas da Unidade de Pacientes Traumáticos do Hospital Salgado Filho, no Rio, trouxe à tona um problema grave envolvendo a rede pública de saúde: o comércio da morte. A revelação de que existe um conluio entre funcionários de hospitais e funerárias, com pagamentos de propinas em troca de informação sobre cadáveres, obrigou a delegada Marta Cavallieri, titular da Delegacia de Homicídios, a dar início a uma rigorosa investigação. Devem passar por sua varredura 21 hospitais municipais e 20 estaduais, além de particulares. O episódio extrapolou o âmbito estadual. O ministro da Justiça, Renan Calheiros, determinou que a Polícia Federal investigue as ligações entre funcionários de hospitais públicos e agências funerárias.

A delegada Cavallieri ainda não tem indícios de outros crimes como os do auxiliar de enfermagem. Mas está investigando as denúncias feitas por Edson de que participariam do esquema Francisco da Silva Filho, chefe do serviço administrativo do Salgado Filho, e ainda José Cavalcante Barros, que trabalhou no serviço de telecomunicações da casa. As reações de familiares das vítimas de Edson Izidoro não param de pipocar. Como ele trabalhou em oito hospitais e clínicas, voltou à cena o nome de Reynaldo Carvalho, o "Bola", Rei Momo do Carnaval. Bola foi internado na Clínica Jardim Oceânico, no dia 30 de março de 1995. Sofria de erisipela. Sua mãe, dona Liége de Carvalho, entrou em pânico quando, na semana passada, reconheceu na televisão o atencioso auxiliar de enfermagem que cuidou de seu filho. Naquele ano, Bola recebeu alta em 28 de abril e morreu subitamente no mesmo dia. Edson Izidoro teria massageado o coração de Bola para "evitar" seu falecimento.