Por esta o prefeito Celso Pitta não esperava. O fantasma do impeachment voltou a rondar seu gabinete, maculado pela lama da corrupção que assola a administração da maior cidade do País. Após quase um mês de calmaria, quando parecia vingar a possibilidade de ele ser arrastado, como um cadáver, até o final do mandato, uma comissão da Câmara Municipal acaba de sinalizar pela cassação. Em documento, o grupo encarregado de analisar as acusações contra Pitta defende que ele cometeu improbidade administrativa. O prefeito virou alvo, entre outros fatos, por não aplicar em educação o percentual de recursos previsto em lei; ser omisso diante de irregularidades praticadas no sistema de saúde municipal; e participar da emissão de títulos públicos sem base legal. A comprovação de qualquer uma dessas denúncias é suficiente para afastar Pitta do cargo, mas um processo desse gênero é sempre definido por componentes políticos. Em vez de enterrar sua carreira política, parte de seus adversários e até mesmo aliados preferem mantê-lo fraco, para faturar eleitoralmente no ano que vem. Cargos e vantagens também contam.

Na prática, virou um cabo-de-guerra com muitas forças ocultas. De um lado, está o próprio prefeito, que há um mês começou a circular intensivamente pela cidade. Com a desculpa de verificar os problemas de cada região, ele tenta montar uma frente antiimpeachment. De vez em quando fica sem chão. Foi o que aconteceu na última quarta-feira quando tentou escapar do cimento fresco de uma calçada. Do outro lado do cabo, querendo derrubar Pitta, alinham-se parte de sua oposição na Câmara, caciques do PFL e, operando nos bastidores, seu ex-padrinho político Paulo Maluf. Para que o processo de impeachment tenha continuidade, é preciso o aval de 33 dos 55 vereadores. Mesmo estando sem partido e carimbado como morto-vivo, Pitta assegura que sua base na Câmara ainda é suficiente para barrar a ação. "Estão tentando encontrar um bode expiatório na esperança de que as investigações cessem e eles fiquem a salvo", diz o prefeito, referindo-se principalmente a Maluf.

Nos corredores da Câmara, porém, apenas vereadores da velha-guarda malufista – como Miguel Colassuono e Brasil Vita – declaram abertamente que votarão contra a ação de impeachment. Nem o líder do PPB, Paulo Frange, adianta sua posição. Entre os partidos de oposição ao prefeito, outra incógnita é o PSDB, que teme ver Pitta responsabilizado pelos desmandos na prefeitura sem que as investigações atinjam Maluf. Em compensação, o presidente da Casa, Armando Mellão (sem partido), que costumava confidenciar que só abriria a votação do impeachment quando tivesse certeza da derrota do prefeito, já avisou que colocará o tema na agenda desta semana. "A base governista é flutuante e incerta", ironiza José Eduardo Cardozo (PT), que preside uma CPI sobre a corrupção municipal. Na semana passada, ele recebeu um laudo grafotécnico apontando falsificação em documento apresentado pela prefeitura em defesa de Pitta. Para complicar, assessores do prefeito procuraram a médium Adelaide Scritori, da Fundação Cacique Cobra Coral, e receberam uma mensagem pessimista. "Digam ao prefeito que renuncie enquanto há tempo. Fatos e documentos vão vir a público, deixando-o numa situação insustentável", avisou a médium. O último a receber recado similar de Adelaide foi Fernando Collor, seis meses antes do impeachment presidencial.