25/06/2013 - 11:37
Três manifestações acontecem simultaneamente na manhã desta terça-feira na periferia da capital paulista. Na zona sul, dois grupos – um em Capão Redondo e outro em Campo Limpo – saíram em passeata pelas ruas da região. Por volta das 8h40, ambos se reuniram na avenida Carlos Caldeira Filho, uma das principais da área. O outro manifesto ocorre em Guaianases, na zona leste.
A Polícia Militar (PM) acompanha os protestos e o trânsito na Caldeira Filho está interrompido. Eles seguem para o Palácio dos Bandeirantes, no Morumbi. Ao todo, mais de mil pessoas participam dos atos, organizados pelos movimentos sociais Periferia Ativa e dos Trabalhadores Sem Teto, com apoio do Movimento Passe Livre (MPL).
Entre as reivindicações estão a reforma urbana, saúde e educação nos "padrões Fifa", fim da violência policial na periferia, desmilitarização da polícia, controle do valor dos aluguéis, fim das remoções arbitrárias, tarifa zero no transporte público e redução da jornada de trabalho para 40 horas sem redução do salário. De acordo com militantes, a Casa Civil do governo do Estado entrou em contato para receber uma comissão para ouvir os anseios do movimento.
"Esse movimento de manifestações que têm ocorrido no Brasil é importante por abrir um canal de comunicação com os governos. A presidente Dilma, nos dois primeiros anos de governo, passou sem receber os movimentos sociais e a partir de agora isso está mudando um pouco", considerou um dos integrantes do MPL, Caio Martins.
O representante do movimento que organizou os protestos na capital paulista também falou quanto à queda na adesão às manifestações em São Paulo após a redução da tarifa do transporte público. "Tínhamos uma pauta central que era a redução do preço do transporte e isso foi conseguido. Dizem que o povo acordou, mas a periferia nunca dormiu. Dizíam que era impossível baixar os preços das tarifas e isso foi conseguido. Ainda temos muitas lutas pela frente", completou Martins.
Segundo a rádio CBN, na zona leste o protesto ainda era tímido no início da manhã. Cerca de 20 pessoas ocupavam a calçada em frente à estação Guaianases da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), onde pintam cartazes e distribuem panfletos sobre as reivindicações do movimento.
Mobilizados contra o aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades brasileiras, grupos de ativistas organizaram protestos para pedir a redução dos preços e maior qualidade dos serviços públicos prestados à população. Estes atos ganharam corpo e expressão nacional, dilatando-se gradualmente em uma onda de protestos e levando dezenas de milhares de pessoas às ruas com uma agenda de reivindicações ampla e com um significado ainda não plenamente compreendido.
A mobilização começou em Porto Alegre, quando, entre março e abril, milhares de manifestantes agruparam-se em frente à Prefeitura para protestar contra o recente aumento do preço das passagens de ônibus; a mobilização surtiu efeito, e o aumento foi temporariamente revogado. Poucos meses depois, o mesmo movimento se gestou em São Paulo, onde sucessivas mobilizações atraíram milhares às ruas; o maior episódio ocorreu no dia 13 de junho, quando um imenso ato público acabou em violentos confrontos com a polícia.
O grandeza do protesto e a violência dos confrontos expandiu a pauta para todo o País. Foi assim que, no dia 17 de junho, o Brasil viveu o que foi visto como uma das maiores jornadas populares dos últimos 20 anos. Motivados contra os aumentos do preço dos transportes, mas também já inflamados por diversas outras bandeiras, tais como a realização da Copa do Mundo de 2014, a nação viveu uma noite de mobilização e confrontos em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Salvador, Fortaleza, Porto Alegre e Brasília.
A onda de protestos mobiliza o debate do País e levanta um amálgama de questionamentos sobre objetivos, rumos, pautas e significados de um movimento popular singular na história brasileira desde a restauração do regime democrático em 1985. A revogação dos aumentos das passagens já é um dos resultados obtidos em São Paulo e outras cidades, mas o movimento não deve parar por aí. “Essas vozes precisam ser ouvidas”, disse a presidente Dilma Rousseff, ela própria e seu governo alvos de críticas.