Gol_620x366.jpg

A Copa das Confederações tem sido um divisor de águas para o futebol brasileiro. Dentro de campo, o Brasil mostrou sua impressionante capacidade de recuperação e já se coloca entre os favoritos para ganhar a Copa do Mundo de 2014, junto com Espanha, Alemanha e Argentina. Fora de campo, o Brasil surpreendeu o mundo ao mostrar que só estádios modernos não são suficientes para o país do futebol. Podemos dizer que o país deu uma bola dentro e uma bola fora ao mesmo tempo.

Bola dentro foi a capacidade que o técnico Scolari demonstrou de fazer um grupo de jogadores se unir em torno de um objetivo e, com um pouco de sorte, passar a jogar um futebol competitivo. Para isso, foi fundamental o golaço que Neymar marcou logo aos 3 minutos do jogo contra o Japão, na estreia. Para além de proporcionar uma confiança que estava faltando ao craque do Barcelona com a camisa da Seleção Brasileira, deixou o time inteiro mais relaxado. A seleção passou a jogar bem, trouxe a torcida a seu favor e descobriu que Neymar, em boa fase, pode sim fazer a diferença na Copa do Mundo. Embora Felipão diga que Neymar já viesse jogando bem na seleção antes da Copa das Confederações, na verdade o craque é outro nesse torneio. 

A camisa 10, que foi de Pelé, Rivelino e Zico, caiu muito bem em Neymar. Em apenas três jogos ele foi capaz de mostrar obediência tática, espírito de equipe ao ajudar na marcação, excelência no passe, maestria na cobrança de falta, precisão nos passes, alta capacidade técnica aos fazer dois gols de sem-pulo (um com o pé direito e outro com o pé esquerdo), arrancadas espetaculares, visão de jogo incomum, inteligência rara e dribles absolutamente desconcertantes. Neymar finalmente deixou de ser o Neymar do Santos para se transformar no Neymar do Brasil.

Sua capacidade de fazer a diferença para o time é tão grande que até ofusca algumas debilidades da Seleção Brasileira, notadamente nas atuações de Oscar e Hulk. Neymar é o cara. E, da mesma forma que a Argentina tem em Messi um elemento que pode fazer o papel de Maradona na Copa de 1986, o Brasil tem em Neymar um craque que pode ser produtivo como o Pelé de 1958, o Garrincha de 1962 ou o Romário de 1994. Ganhando ou perdendo a Copa das Confederações, o fato é que a Seleção Brasileira finalmente joga como um time – coisa que não acontecia desde 2010.

Bola fora foi o erro cometido pelo país de ter dado mais atenção aos estádios do que às obras que poderiam ficar como legado ao país – daí a enorme onda de manifestações contra a Copa do Mundo num momento que já é muito tarde para protestar. A Fifa não é nada simpática, sabemos, mas não foi ela que quis realizar o Mundial no Brasil; foi o Brasil que se candidatou e aceitou se submeter a todas as regras “fifenses”. Começa pelo número de estádios. A Fifa pediu de oito a dez, o Brasil decidiu fazer 12. Três cidades não têm grande tradição futebolística: Brasília, Manaus e Cuiabá. Por sua vez, Natal também não é um pólo futebolístico. E Goiânia, que é, ficou de fora.

Pelo menos três estádios poderiam ter sido aproveitados para a Copa de 2014: Morumbi (SP), Pacaembu (SP) e Engenhão (RJ). Não havia necessidade real de construir a Arena Corinthians em Itaquera, um dos bairros de menor infra-estrutura na maior cidade do país. Da mesma forma, o Maracanã não precisava ter sido colocado abaixo para construir outro, completamente diferente, por um custo alto. Recife, uma cidade que já tem três estádios, decidiu fazer um quarto. Havia uns dez estádios brasileiros que poderiam ter reformas moderadas, em sua maioria, para se enquadrar no famoso “padrão Fifa”: Maracanã (RJ), Engenhão (RJ), Morumbi (SP), Pacaembu (SP), Beira-Rio (RS), Arena da Baixada (PR), Mineirão (MG), Fonte Nova (BA), Serra Dourada (GO) e Castelão (CE). Mas o Brasil optou por fazer algo mais grandioso.

Pena que os interlocutores brasileiros da Fifa não tenham tido a sensibilidade de propor à entidade uma Copa do Mundo mais com “a cara do Brasil”. O resultado disso foram estádios suntuosos que, em alguns casos, contrastam com um entorno cheio de problemas. Talvez o “padrão Brasil” fosse mais adequado do que o “padrão Fifa”.  Agora é recuperar o tempo perdido e ver o que ainda é possível fazer em termos de ruas, transportes e aeroportos em menos de um ano.

Não adianta querer impedir a realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil. Seria pior para todo mundo, principalmente para o país – a maior bola fora da história do futebol.