Obras de Picasso, Matisse, Modigliani, Kandinsky, Chagall e mais uma dezena de mestres que costumam causar aglomerações em museus do mundo afora se encontram reunidas em São Paulo numa primorosa exposição na Galeria de Arte do Sesi, do Centro Cultural Fiesp. A coleção de obras-primas, que no primeiro fim de semana de exibição atraiu mais de 6.500 pessoas, batendo o recorde de público da galeria, não foi emprestada por nenhuma instituição estrangeira com seguros estratosféricos. Faz parte do valioso acervo do Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC USP), que pinçou 190 entre suas mais de sete mil obras na bela mostra O Brasil no século da arte – a coleção MAC USP. Ao lado de internacionais nomes estrelados brilham também os maiores artistas nacionais, numa seleção que vai do modernismo aos dias de hoje, com trabalhos de Anita Malfatti, Cândido Portinari, Lasar Segall e muitos outros. Como afirma Teixeira Coelho, diretor do MAC e curador da exposição juntamente com o vice-diretor, Martin Gossmann, "trata-se de uma aula de história da arte como o Brasil nunca viu".

A megaexposição que integra as comemorações dos 500 anos do Descobrimento se inicia com a tela Paisagem (1906/07), do italiano Giacomo Balla, e termina com a instalação Paradoxo do santo (1998), de Regina Silveira. O percurso foi concebido como uma avenida, dispondo cronologicamente e em pé de igualdade trabalhos de 150 artistas brasileiros e estrangeiros, evitando a tradicional divisão por nacionalidades ou movimentos estéticos. Logo no início, o melancólico Auto-retrato (1919), de Amedeo Modigliani, pode ser visto ao lado do expressionista Retrato de Joaquim do Rêgo Monteiro (1920), de Vicente do Rêgo Monteiro, que, à maneira do italiano, também alonga o pescoço do modelo. "Nos dois casos a linguagem é basicamente a mesma, mas os brasileiros estavam fazendo arte que não era simples imitação", avalia Teixeira Coelho.

Um dos segmentos que com certeza atrairá a maior parte das atenções é o que traz os óleos Floresta (1929), de Tarsila do Amaral, O vaso azul (1948), de Fernand Léger, e o guache Personagem atirando uma pedra num pássaro (1926), de Joan Miró. Na mesma sala pode-se admirar ainda as telas Primavera (1938/39), de Marc Chagall, Natureza morta (s/d), de Georges Braque, e Composição clara (1942), de Wassily Kandinsky, e a escultura em aço inox de Max Bill, Unidade tripartida (1948/49). Estrategicamente, a curadoria colocou num só canto a revolução espacial contida em Natureza morta (1941), de Henri Matisse, ao lado de Figuras (1945), de Pablo Picasso, dois artistas que, cada um a seu jeito, apontavam caminhos futuros para a arte contemporânea. "As primeiras décadas do século, até os anos 50, estão muito bem representadas na coleção, com obras bastante significativas", aponta Teixeira Coelho, que lamenta o fato de o MAC não ter uma sede própria à altura deste acervo capaz de causar inveja a qualquer instituição de arte latino-americana. Criado em 1963, quando o empresário Francisco Matarazzo Sobrinho doou para a USP sua coleção de arte moderna, o MAC funciona na pequena sede localizada no campus da universidade paulista. É um espaço ingrato, pois, além de não abrir nos fins de semana, a área de dois mil metros quadrados é suficiente para exibir apenas 100 obras. Os maiorais das artes plásticas mereciam mais atenção.