Se o pior da crise financeira no Brasil já passou e a turbulência política no Paraguai foi amenizada, a Argentina é o principal foco de tensão no Mercosul. Depois que a desvalorização do real encareceu as exportações argentinas em 20% a 25%, as pressões pesam – apesar do trocadilho – sobre o peso. A paridade entre a moeda argentina e o dólar foi a chave que abriu o período de maior prosperidade ao país neste século. Mas os problemas que atormentavam havia pouco os brasileiros parecem escorrer perigosamente para a Argentina e contaminar as eleições presidenciais de outubro. "Há um dilema: ou eles mudam o regime cambial ou correm o risco político", disse a ISTOÉ o ministro do Desenvolvimento, Celso Lafer, que participou da 5ª Cúpula Econômica do Mercosul, evento latino do Fórum Econômico Mundial, realizada em Santiago. "Para mim, eles vão correr o risco." A indústria automobilística é um bom exemplo dos atuais problemas econômicos argentinos. Enquanto o real esteve sobrevalorizado, o País conseguiu superávits comerciais suficientes para compensar a rigidez cambial. Esses resultados foram obtidos por meio de um regime de proteção especial, também existente no Brasil, mas que vence em dezembro. Por conta disso, o governo de Menem força o brasileiro a prorrogar os incentivos até 2003. "O regime especial só serve para eles", diz o executivo de uma montadora no Brasil. "Quando os incentivos acabarem, a indústria automotiva argentina chegará ao fim."

Com o real desvalorizado, o impacto na indústria argentina foi enorme, com queda na produção de mais de 50% em março. Muito para um mercado que consome cerca de 200 mil carros por ano. As atitudes do governo brasileiro em ajudar seu sócio foram mais simpáticas depois que Menem reclamou por não ter sido avisado sobre a desvalorização do real. Contra o temor de que os produtos brasileiros inundassem as lojas abaixo do Mar del Plata, o governo brasileiro suspendeu o programa de financiamento às exportações para o Mercosul. "O que inibiu nosso desempenho", lamentou o ministro de Relações Exteriores, Luís Felipe Lampreia. Mesmo assim, o governo de Menem decidiu baixar medidas antidumping contra o aço brasileiro, que – por ironia – faz parte da cadeia automotiva, encarecendo ainda mais o carro argentino. Apesar da aparente generosiade do Planalto, a melhor contribuição brasileira virá mesmo na forma de recuperação da sua própria economia.