A festa que o Pão de Açúcar planejou na semana passada para comemorar a sua última jogada no processo de expansão – a locação dos 25 supermercados Paes Mendonça – foi definitivamente frustrada na sexta-feira 7 com o desastre em uma loja do grupo, na zona sul de São Paulo. Duas vigas podres não aguentaram o peso do teto, que ruiu sobre 30 clientes e funcionários. O acidente fez 14 feridos, incluindo Maria Helena Varella, 72 anos, que teve traumatismo craniano. Há suspeitas de que parte do teto desabou na noite anterior, após as chuvas fortes que caíram em São Paulo. A perícia do acidente está para ser feita, mas a imagem do Pão de Açúcar está abalada. A loja, localizada no bairro do Itaim-Bibi, foi adquirida em fevereiro deste ano junto com outros 27 supermercados Peralta. A última grande reforma no local ocorreu em 1994, segundo a prefeitura, e moradores do bairro declaram que a transferência para a nova bandeira ocorreu muito rápido. O diretor de investimentos e obras da empresa, Caio Mattar, afirma que o supermercado permaneceu fechado durante 15 dias até sua reabertura com outro nome.

O desabamento no supermercado era o que Diniz menos queria no momento em que comemorava o negócio com o Paes Mendonça. Durante anos ele sonhou em comprar a rede, dentro de um processo de crescimento acelerado que tomou fôlego em 1997. Na terça-feira 4, fechou um acordo. "Assinamos um contrato de locação das 25 lojas, com o direito de compra em até 20 anos", declarou. Foi uma ousada cartada: ao alugar as lojas, Diniz jogou para escanteio o problema de uma dívida de R$ 1,3 bilhão em impostos atrasados e se dispôs basicamente a negociar os R$ 60 milhões de créditos junto a fornecedores. Quem não gostou do acordo foi o governo de São Paulo, que tem a receber R$ 150 milhões em ICMS atrasados. Mas a manobra é legal, afirma o jurista Ives Gandra da Silva. "A cessão temporária de bens de uma empresa não significa sua compra", declara.

O contrato com o Paes Mendonça coroava uma reviravolta bem-sucedida do grupo. O curioso é que ambas as redes enfrentaram uma tremenda crise a partir de 1990, com direito a brigas familiares. Mas enquanto o Paes Mendonça se afundava cada vez mais, Diniz deu a volta por cima. O empresário agora passa a faturar R$ 6,5 bilhões anuais e encosta nos R$ 6,9 bilhões do Carrefour. Os antigos Paes Mendonça terão as bandeiras do grupo paulista (Pão de Açúcar, Extra, Barateiro e Eletro) em no máximo 30 dias. Passarão por pequenas mudanças internas para depois sofrer maiores reformas. O que se espera é que desta vez não haja surpresas.

Colaborou Gustavo Chacra