Não era sem tempo. Depois de o Viagra e de seu mais recente concorrente, o Vasomax, tranquilizarem o homem com problemas de ereção, chegou a vez de as mulheres também receberem boas notícias para tratar dos seus problemas sexuais. Por enquanto, o presente ainda não é palpável. Trata-se apenas de dados, mas que contam muito num terreno tão complexo e, por isso mesmo, tão escasso de soluções quanto o da sexualidade feminina. O alento, apresentado no último congresso internacional promovido pela Associação Americana de Urologia, o mais importante do mundo, realizado em Dallas, Estados Unidos, foi uma pesquisa provando que o uso do Viagra em mulheres pode encurtar o caminho para o prazer. Pela primeira vez um estudo mostrou que o sildenafil (princípio ativo do Viagra) melhora a resposta sexual feminina – há outras pesquisas sendo conduzidas na Europa, mas os resultados ainda não podem ser divulgados. Foram estudadas 17 mulheres acima de 45 anos que estavam na menopausa ou tiveram o útero retirado (histerectomia) e se verificou por meio de um ultra-som vaginal que o medicamento promovia aumento do fluxo sanguíneo genital e da lubrificação – dois fatores importantes para chegar ao orgasmo – quando as voluntárias eram submetidas a estímulos eróticos – no caso, filmes de sexo explícito.

A exposição do trabalho causou furor no Congresso. E fez com que os holofotes girassem em torno da pesquisadora Jennifer Berman, urologista do Boston Medical Center e uma das responsáveis pelo estudo, realizado na Universidade de Maryland. Embora a droga não tenha funcionado em pacientes com problemas emocionais relacionados às experiências sexuais anteriores, é um ponto de partida. "Eventualmente vou estudar o Vasomax também. Ao saber como essas drogas funcionam, conheceremos melhor o organismo feminino e conseguiremos pautar a direção de novas drogas", disse Jennifer Berman a ISTOÉ. Na busca de novos tratamentos, outro pesquisador importante da urologia internacional, Irwn Goldstein, revelou a ISTOÉ que está desenvolvendo um supositório vaginal à base de fentolamina (princípio ativo do Vasomax), que facilitaria o orgasmo.

Na verdade, muitos especialistas, embalados pelo sucesso dessas drogas com os homens, estão verificando sua eficácia com as mulheres. No Brasil, o urologista paulista Joaquim Claro, que participou do congresso e é professor assistente da Universidade Federal de São Paulo, já receitou o Vasomax para dez mulheres entre 20 e 40 anos. O resultado, embora esteja baseado apenas na observação do que as pacientes contaram, foi surpreendente. "As mulheres relataram, já no primeiro dia de uso do remédio, aumento da sensibilidade genital, maior lubrificação e elasticidade vaginal porque, provavelmente, há um relaxamento da parede da vagina assim como acontece com o músculo do pênis", afirma Claro.

Tanto o laboratório Pfizer, fabricante do Viagra, quanto a Schering-Plough, que produz o Vasomax, ainda não recomendam as drogas para uso em mulheres. "Acredito que 30% dos casos de disfunção sexual sejam por causas físicas. O restante é psicológico. Contra isso, só a prevenção. Para não ter problemas sexuais no futuro, é preciso ensinar a sexualidade para a criança", diz Sidney Glina, presidente da Sociedade Internacional para o Estudo da Impotência e que também esteve no congresso. Prescrever a droga a mulheres, portanto, não será sua conduta, assim como não é a do urologista paulista Celso Gromatzky. "Precisaremos entender mais da fisiologia feminina para criar a droga certa para ela", afirma. Com certeza, faltam mais estudos, mas já é uma boa preliminar.

 

Alternativas para o futuro

A era de medicamentos para as disfunções sexuais começou há um ano, quando o Viagra, primeiro remédio oral para impotência, foi aprovado pela Food and Drug Administration, órgão americano responsável pela liberação de medicamentos nos Estados Unidos. Desde então, mais de 4,5 milhões de pacientes, no mundo, já tomaram uma das pílulas azuis. Mais de 70 milhões de comprimidos foram vendidos e, segundo o Laboratório Pfizer, que fabrica o produto, o número de homens que procuraram o médico para diagnóstico e tratamento de disfunção erétil dobrou de 1997 para 1998. Com a chegada do Vasomax, lançado no Brasil há um mês, esse mercado deve aumentar, já que a droga tem sido propagandeada como tão eficaz quanto o Viagra, mas com menos efeitos colaterais (não há risco para pacientes cardíacos, por exemplo). Nessa briga, quem ganha é o consumidor. E vai ganhar ainda mais com as novas perspectivas para deixar a relação sexual melhor. Os tratamentos ainda requerem aperfeiçoamento, mas o futuro promete, como mostra o quadro ao lado.