A velocidade da ação é estonteante. Mesmo o jogador mais tarimbado precisa de extrema concentração e reflexos ultra-rápidos para controlar os movimentos do bonequinho Sonic – que está para a Sega assim como Mario Bros está para a rival Nintendo – e não perdê-lo de vista enquanto dispara de um canto ao outro da tela da tevê em sua vertiginosa perseguição ao arqui-rival Caos. Nunca houve um videogame tão poderoso. Seu nome é Dreamcast. Nele a fabricante japonesa Sega deposita todas as fichas para tentar retomar a liderança do mercado mundial. Com o final do reinado Atari, em 1989 a Sega tomou de assalto o segmento com o Master System, máquina de 8 bits (quanto mais bits, ou poder de processamento, melhores gráficos, áudio e ação). Em seguida, a empresa consolidou sua posição com o Mega Drive, de 16 bits. Mas, em 1994, a Sony lançou seu PlayStation, a primeira máquina de 32 bits, alavancando as emoções dos gamemaníacos a novos patamares de energia. A Sega retrucou com o console Saturn, também com 32 bits. No ano seguinte, foi a vez da Nintendo dobrar as apostas com os 64 bits do Nintendo 64. E o barco da Sega começou a fazer água.

 

Concorrência Hoje, o PlayStation responde por 50% do mercado mundial, contra 35% da Nintendo e 15% da Sega. "O Dreamcast é o último tiro da Sega", diz Seema Williams, especialista em videogames da consultoria Forrester Research. E que tiro! Ela se espelhou no exemplo das concorrentes e dobrou a parada. O Dreamcast tem 128 bits. É 15 vezes mais rápido que o aparelho da Sony, dez vezes mais poderoso que o da Nintendo e quatro vezes superior em processamento gráfico que o mais rápido dos chips Pentium II da Intel. Lançado em novembro de 1998 no Japão, vendeu 150 mil unidades no primeiro dia e está para superar a marca de um milhão de consoles vendidos. Enquanto os japoneses se divertem, o resto do mundo aguarda. "O Dreamcast será a ponte que a Sega usará para alcançar a liderança do mercado no século XXI", afirma Bernard Stolar, presidente da Sega dos EUA, que pretende torrar US$ 100 milhões só para promover o produto, que será lançado entre os americanos em setembro por US$ 199.

No Brasil, a coisa pode evoluir mais rápido. "Queremos trazê-lo bem antes disso, talvez já em junho ou julho", diz Flávio Ferreira, da Tec Toy, que distribui os produtos da Sega no País e sentiu de perto o fracasso de comercialização do Saturno. Depois de amargar uma concordata, a Tec Toy aposta tudo no sucesso do Dreamcast. Salvo novos sobressaltos do dólar, o preço do produto deve ficar na faixa dos R$ 800, contra R$ 550 do Nintendo 64 e R$ 430 do PlayStation. "É caro, mas quando um pai quer agradar a um filho não pensa em preço", garante João Zachello, do departamento de marketing da Tec Toy.

"A gente vai voltar a ser líder de mercado", torce Flávio Ferreira. Razões para tanto otimismo não faltam. Além da velocidade de processamento, o novo console tem um drive para acessar games gravados em GD-ROM (gigadrive rom), um CD com capacidade para armazenar um megabyte de dados. A Sega também prepara diversos periféricos, como um modem de 56k para realizar partidas com diversos jogadores via Internet, além de um leitor de discos de alta densidade com capacidade para 100 megas, que está sendo desenvolvido pela IOmega, fabricante do ZIP. Outra exclusividade é o Sistema de Memória Visual, um cartão de memória para plugar no joystick e salvar as últimas jogadas.

Parceria Já foram lançados no Japão oito jogos para o Dreamcast, entre os quais o Sonic Adventure, o SuperSpeed Racing, um simulador de Fórmula Indy, e o Virtual Fighter, de briga de rua. No Brasil, devem custar R$ 99 cada um, contra R$ 140 do cartucho Zelda, o mais vendido da Nintendo. Até o ano 2000, a Sega espera ter 20 games nas prateleiras, quantidade insignificante se comparada aos três mil jogos disponíveis para o PlayStation. É aí que a fábrica do Sonic joga sua última cartada: uma parceria com a Microsoft, que implantou dentro do Dreamcast o sistema operacional Windows CE, o irmão mais novo do Windows para PCs. Em outras palavras, isso quer dizer que será muito fácil para os fabricantes de jogos de computador converterem seus produtos para o novo console. Com isso, a Sega espera inundar rapidamente as lojas com centenas de jogos. E dar a tão sonhada volta por cima.