Nem sempre a medicina precisa criar novos remédios para obter bons resultados em tratamentos. Algumas vezes, a solução já existe, mas ainda não foi percebida. É o caso de uma recente descoberta do Instituto do Coração (Incor), de São Paulo. Cientistas da instituição provaram que o composto anti-hipertensivo carvedilol ajuda no tratamento de crianças com insuficiência cardíaca grave – enfraquecimento do músculo cardíaco causado, por exemplo, pela doença de Chagas ou por hipertensão. O remédio ajudou a tirar pacientes da fila de transplantes. A substância vinha sendo utilizada em adultos, com bons resultados.

Durante seis meses, foram analisadas 17 crianças com idade entre três meses e dez anos que estavam em estado grave e precisavam de um transplante de coração. O enfraquecimento do músculo prejudica a capacidade do coração de bombear sangue para o corpo e pode exigir a substituição do órgão. As crianças continuaram com o tratamento convencional, à base de drogas específicas contra o problema. Dez delas, no entanto, receberam também o carvedilol. As outras sete tomaram comprimidos sem efeito. Metade dos medicados com esse remédio saiu da fila de espera por um coração. “A droga bloqueia a ação da catecolamina, substância que acelera a progressão da doença”, explica Edmar Bocchi, um dos coordenadores do estudo. A partir do resultado, o carvedilol foi incluído no tratamento dos pacientes mirins do Incor que sofrem da doença.