O número de mulheres que têm fraturas decorrentes da osteoporose – doença que leva ao enfraquecimento progressivo dos ossos – é menor na América Latina, no México e na Costa Rica do que nos Estados Unidos. A conclusão é de um grupo formado por especialistas envolvidos com o tratamento do mal em sete países, que está avaliando as dimensões do problema no continente. De acordo com estatísticas da Fundação Internacional de Osteoporose (IOF), uma em cada três mulheres poderá sofrer a doença. Mas a chance de uma americana quebrar os ossos do quadril, por exemplo, é duas vezes maior do que a de uma brasileira. “O número de casos de fratura diminui nos países onde há mais sol”, explica o ginecologista Gustavo Kesselring, que participa do grupo. Embora os especialistas não disponham de números exatos, a afirmação faz sentido. O sol ajuda a síntese de vitamina D, importante na fixação do cálcio nos ossos. Como se sabe, o mineral é fundamental para a saúde do esqueleto. E, mesmo quando o processo de enfraquecimento dos ossos já teve início, o estímulo da formação de vitamina D dado pelo sol ajuda a conter o avanço rápido da doença.

No entanto, a situação das brasileiras poderia ser melhor. Seria possível ter ainda menos fraturas se houvesse maior preocupação com a prevenção da doença (leia quadro com orientações). Em geral, quando chegam a um médico, as mulheres apresentam estágio adiantado de fragilidade dos ossos. Muitas só fazem o exame de densitometria óssea, que avalia a taxa de perda de massa óssea, muito tempo depois do recomendado (os especialistas aconselham o exame por volta dos 45 anos). O resultado é que três em cada dez mulheres na pós-menopausa já tiveram fraturas quando fazem a primeira densitometria.

Essas fraturas atingem mais os ossos da coluna, quadris, punhos e costelas. Elas trincam silenciosamente os ossos e são a origem de muitas dores não diagnosticadas sofridas por mulheres mais velhas. Na coluna, as fraturas causam diminuição da estatura e dor crônica nas costas. “Nos casos mais graves, colocam a vida em risco. Se houver necessidade de internação e a recuperação for lenta, existe a chance de a paciente enfrentar complicações associadas à permanência prolongada no hospital, como a pneumonia”, explica o reumatologista Cristiano Zerbini, da Universidade de São Paulo. A opção mais comum de tratamento das fraturas de bacia e fêmur, por exemplo, são as cirurgias para colocação de próteses e pinos, seguidas de reabilitação.

Controle – O outro lado da moeda, que é atribuir todas as dores à osteoporose, também é um problema. A situação, descrita pela reumatologista Vera Szejnfeld, da Universidade Federal de São Paulo, é frequente na pós-menopausa. “A mulher vai ao médico com queixas de dores no corpo ou nas articulações, faz a densitometria e descobre que tem a doença. Ela se trata, mas a dor não passa. Provavelmente existe outra razão. A osteoporose só dói quando há fraturas”, alerta.

Preocupação mundial, a doença motiva centenas de estudos. Hoje já se sabe que ela tem origem genética e aparece quando combinada a fatores ambientais, como sedentarismo, fumo e falta de exposição ao sol. As pesquisas dizem mais. No ano passado, descobriu-se que a perda óssea é maior em pessoas deprimidas por causa de mecanismos ainda em estudo.

Detectada no início, a osteoporose pode ser controlada. Uma das opções mais eficientes é a reposição do hormônio feminino estrógeno. Indispensável para a absorção do cálcio pelo corpo da mulher, esse hormônio diminui durante o climatério (a fase que precede a menopausa). Por isso a necessidade de repô-lo. Mas há outras alternativas. Entre elas, estão substâncias como o raloxifeno, risedronato e o alendronato. Elas podem ser usadas até por mulheres que reagem mal à terapia hormonal.

Também há quem aposte nos fitoestrogênios. São hormônios de plantas, como a isoflavona da soja, de ação semelhante ao estrógeno, embora mais fraca. “Experiências com pequenos grupos sugerem que os fitoestrogênios possam trazer algum benefício para os ossos. Mas ainda não há estudos conclusivos sobre seus efeitos”, alerta o endocrinologista Linneu Amaral Silveira, do Hospital Sírio-Libanês.

Boa parte do sucesso contra a osteoporose vem da vontade da própria paciente. A advogada aposentada Margarida Giordano, 65 anos, de São Paulo, resistiu um pouco, mas mudou seu estilo de vida para conter o avanço da osteoporose detectada durante um check-up. “Tomei vitamina D, cálcio e mais dois medicamentos por três anos. Passei a andar pelo menos uma hora por dia e faço ioga, que tem posturas para a osteoporose. O problema está sob controle”, afirma. Mesmo vitoriosa, ela levou um puxão de orelha do médico. Ele reclamou que o exame deveria ter sido feito logo depois da menopausa. O médico geriatra que cuidava dela antes ignorava essa recomendação.