Tanusevci é um remoto povoado albanês da Macedônia que fica próximo à fronteira com o Kosovo, a província de maioria albanesa da Sérvia. Por décadas, este lugarejo foi ponto estratégico da rota balcânica de contrabando de armas e drogas. No dia 18 de fevereiro passado, uma reportagem da tevê mostrou a falta de controle que as autoridades macedônias tinham sobre Tranusevci. Foi o que bastou para que a polícia entrasse no local para fechar a fronteira com o Kosovo. Três policiais macedônios foram mortos por albaneses armados. Centenas de milicianos albaneses foram mobilizados em vilarejos ao redor de Tetovo, a segunda cidade da Macedônia, iniciando o que parece ser a quinta guerra balcânica desde o desmembramento da Iugoslávia, iniciado há dez anos. Em poucos dias, o Exércido da Macedônia atacava posições do até então desconhecido grupo guerrilheiro albanês Exército de Libertação Nacional (ELN), formado por muitos remanescentes do Exército de Libertação do Kosovo. De novo, cenas de refugiados civis fugindo dos combates em plena Europa do século XXI voltavam aos noticiários. Mas agora, ao contrário do que ocorreu há dois anos, quando a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan, a aliança militar ocidental) interveio no Kosovo, os albaneses são vistos como vilões. Tanto que a União Européia e a Otan apoiaram o governo macedônio contra a “ameaça terrorista” albanesa.

Os albaneses, de fato, têm bons motivos para estarem descontentes. Eles estão entre as populações mais pobres da Europa, espalhados pelos Bálcãs: 3,2 milhões na Albânia; 1,5 milhão no Kosovo (onde representam 90% da população); 500 mil na Macedônia; 500 mil na Grécia, 100 mil na Sérvia e 50 mil no Montenegro. Isso sem contar o 1,2 milhão que emigrou para os EUA, Alemanha, Suíça e outros países europeus. Na Macedônia, eles se consideram cidadãos de segunda classe. Representam 9,4% da força de trabalho do país, mas têm um potencial para serem 18,5%; no serviço público, detêm pouco mais de 3% dos postos de trabalho. Os albaneses também reclamam que o governo não permite o ensino em sua língua-pátria. Uma tentativa de fundar uma universidade albanesa em Tetovo vem sendo proibida pelo governo desde 1994.

O problema é que a Macedônia não é o Kosovo. Lá, a população majoritariamente albanesa sofria as consequências da cruel política de “limpeza étnica” do ex-ditador sérvio Slobodan Milosevic. Tanto que a intervenção da Otan foi feita – ao menos em teoria – em nome da libertação dos kossovares albaneses. Se na Macedônia os albaneses eram cidadãos de segunda classe, eles nunca sofreram a opressão como seus patrícios do Kosovo. Têm, inclusive, algumas regalias. Desde 1991, quando a Macedônia proclamou sua independência, partidos albaneses participam do governo.

Tudo indica que os extremistas albaneses cometeram um tremendo erro de cálculo. Se tiveram a esperteza política de apresentar sua causa como “defesa da igualdade étnica” – e não a luta por uma Grande Albânia –, esqueceram-se de levar em conta as mudanças ocorridas no tabuleiro político da região. A mais importante foi a derrubada da ditadura Milosevic na Sérvia. Muitos acreditam que os interesses que movem os guerrilheiros albaneses estão mais ligados ao tráfico de armas e drogas do que à luta pela liberdade. Afinal, é bom lembrar que o Exército de Libertação do Kosovo foi criado no início dos anos 90 em grande parte com dinheiro proveniente do cartel albanês de heroína que domina o narcotráfico europeu. Resta saber se os apelos dos rebeldes encontrarão eco na frustrada população albanesa da Macedônia.