No verão de 2030, os corpos mais cobiçados das praias brasileiras serão bem diferentes dos atuais campeões da preferência nacional. Nada dos seios de silicone da Feiticeira ou do perfil sarado de Alexandre Frota. Os corpos que vão encher os olhos e dar o que falar no futuro serão mais altos, esguios, com pouca gordura, mas sem músculos aparentes ou nada que faça lembrar uma aparência biônica. Os contornos serão sutis. Por isso, o corpo do futuro será bonito, durinho, mas o mais parecido possível com os contornos que a natureza garante. As formas também serão perfeitas. Não haverá espaço para flacidez ou gordura em excesso. Seremos todos mais bonitos. Quem sabe como os atores Maria Fernanda ou Thiago Lacerda, modelos de hoje e de como será a beleza do futuro por causa de suas linhas harmônicas e clássicas com uma bela escultura grega.

Uma feliz combinação de fatores resultará nessa perfeição. O que a genética não der conta, será resolvido com alimentação correta, malhação na medida certa, cirurgias mais eficazes e muita tecnologia. Em cada um desses fatores haverá grandes inovações. Na ginástica, a revolução será impressionante. A começar pela possibilidade de fazer fitness virtual. Será possível interagir com o computador e fazer as mais alucinantes viagens enquanto se exercita. Hoje, já dá para se ter uma idéia deste novo tipo de malhação. Nos Estados Unidos, começam a fazer sucesso softwares que permitem que a pessoa se exercite de uma maneira lúdica e, ao mesmo tempo, de forma high-tech. Com um dos programas, chamado Interfit, pode-se subir numa bicicleta ergométrica nos Estados Unidos e competir com outra pessoa na Tailândia, se ela tiver o mesmo programa. É como um videogame virtual, com o qual se joga e também se queima muita caloria.

Mas devem desembarcar outros programas que permitirão viagens ainda mais inusitadas. Já imaginou sentar-se à frente de um manche colocado diante de uma enorme tela e simular movimentos como se estivesse voando de asa-delta? Dentro de algum tempo isso será possível. Afinal, uma amostra desse programa já foi apresentada a especialistas. E, para tornar a malhação ainda mais divertida, outro campo se abrirá. Será o fitness com entretenimento. Enquanto se exercita na esteira ou na bicicleta, o aluno escolherá o filme que quer assistir ou a música que deseja ouvir. Uma prévia desse sistema já está disponível nos Estados Unidos. Numa sala na academia, há várias telas com opções de filme e programas. Cada aluno recebe um fone de ouvidos – ou usa o seu próprio walkman – e se pluga na alternativa que mais gostar. A previsão é de que esse sistema fique ainda mais high-tech. Será adicionada, por exemplo, a opção de videolaser digital. O objetivo é fazer com que a malhação não fique monótona nem efêmera. “Pesquisas mostram que 44% das pessoas desistem da academia antes de completar três meses. Ao aliarmos o fitness ao entretenimento, diminuímos as chances de desistência”, afirma Tony Garcia, vice-presidente da Broadcast Vision, uma das empresas que produzem esse tipo de sistema. Além disso, tudo indica que em menos de três anos haverá a alternativa de navegação na Internet, acoplada a esses aparatos.

Internet – Já existem, também nos Estados Unidos, aparelhos de ginástica ligados à Internet. Enquanto pedalam em ergométricas ou caminham nas esteiras, os alunos podem surfar na web. Toda essa tecnologia transformará a malhação em atividade bem mais prazerosa, o que resultará num índice de adesão -maior e, por isso mesmo, num corpo mais durinho. Mas outros fatores contribuirão para isso. Os exercícios serão mais monitorados, com a ajuda de aparelhos que disponham de sofisticados sistemas de controle de frequência cardíaca, intensidade e regularidade dos exercícios, entre outras informações. “Este sistema faz com que o aluno chegue ao seu objetivo com mais eficiência”, explica Vall Santos, um dos supervisores da academia Competition, de São Paulo.

Chave – Uma mostra desse sistema já funciona no Brasil. Trata-se do tecnogym sistem. Com essa tecnologia, o aluno recebe uma chave que é inserida num terminal eletrônico e no aparelho de musculação. A chave contém um chip onde estão armazenadas informações sobre os exercícios que devem ser feitos, e em que frequência, entre outras coisas. Os dados sobre a execução dos exercícios são guardados na chave e repassados para um terminal ao qual os instrutores têm acesso. Dessa forma, aluno e professor sabem se o objetivo está sendo cumprido. “O aluno visualiza os resultados mais rapidamente e fica estimulado a continuar. O exercício se tornará hábito. Dessa forma, nascerá o corpo do futuro”, afirma Turíbio Barros, fisiologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Para aumentar ainda mais a adesão, muitas aulas serão padronizadas, com sequência fixa de exercícios e coreografias. Será possível frequentar uma aula meses a fio sem medo de não conseguir seguir as coordenadas dos professores.

Ao mesmo tempo que a tecnologia invadirá o fitness, haverá o resgate de aulas nas quais se malharão mente e espírito. Aulas de ioga, tai chi chuan e modalidades semelhantes terão mais espaço nas academias. A idéia é garantir, mais do que tudo, saúde e bem-estar. “O conceito da malhação mudará. Hoje já se fala mais em wellness (bem-estar em inglês) e menos em fitness”, explica Almeris Armiliato, 37 anos, um dos diretores da academia Bio Ritmo. A combinação entre alta tecnologia e uma filosofia de malhação mais zen será decisiva na formação de um corpo mais harmonioso. Enquanto os aparelhos ajudarão a definir os músculos, mas sem exagero, as aulas zen contribuirão para dar mais elasticidade e estimular uma relação melhor com o próprio corpo. Muito diferente dos excessos que permearam a malhação até agora. Há 20 anos, por exemplo, houve a explosão da aeróbica, quando a ordem era pular ao som de músicas altíssimas e ficar magro, e também da musculação, com a supervalorização do visual marombeiro-schwarzenegger. “A tendência do exercício é o alongamento, que ajuda o corpo a ganhar leveza sem lesões”, afirma Nadja Winitz, 46 anos, professora de power ioga (modalidade em que se usa força para conseguir maior flexibilidade e que também promove a integração do corpo e da mente). O resultado dessas mudanças será evidente: o corpo ganhará a liberdade de ser o que é, mas muito mais aprimorado.

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É claro que a ciência também vai dar uma mãozinha para quem quiser ganhar músculos sem suar na academia. Cientistas da escola de Medicina da Royal Free and University College, em Londres, e no Centro Médico da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, estão experimentando em ratos vacinas que injetam uma substância que aumenta a massa muscular de 15% a 27%. A transformação acontece em um mês, sem que os ratinhos tenham de fazer qualquer exercício. E melhor. O milagre dura a vida inteira. A previsão é a de que mais essa maravilha saída dos laboratórios esteja disponível dentro de 20 anos.

Nutrição – Os músculos mais rijos e o perfil mais alongado também serão obtidos com nutrição adequada. Afinal, a tendência é de que o homem se alimente cada vez melhor. “A alimentação balanceada garantirá os nutrientes necessários para que o corpo tenha menos gordura e flacidez”, afirma a nutricionista Mirtes Stancanelli. A ingestão de mais frutas ricas em vitamina C, por exemplo, ajudará na maior formação das fibras de colágeno e elastina, que dão sustentação à pele. Consumir mais vitamina A – frutas como caqui, mamão e manga são fartos desse nutriente – e de vitamina E – os óleos vegetais são as suas melhores fontes, além de estar presente nos ovos, folhas verdes e cereais integrais, entre outros – também contribuirá para combater a destruição do colágeno. Além disso, haverá à disposição uma infinidade de suplementos com o melhor dos alimentos. Uma prévia dessa triagem já começou. A carne vermelha, por exemplo, sempre foi encarada como vilã. “Mas se descobriu que ela tem uma substância boa: a creatina, que ajuda a fortalecer o tecido muscular. Foram cria-dos suplementos de creatina para beneficiar quem não quer comer a carne, mas precisa da substância”, explica Turíbio Barros. A tendência de comer mais frutas e verduras também ajudará a perder peso – e não só pela razão de que esses alimentos são pouco calóricos. O cromo, por exemplo, existente nas verduras e frutas, facilita a ação da insulina, substância que permite a entrada da glicose nas células. Portanto, ao contribuir para que a glicose seja transformada em energia dentro das células, o cromo também auxilia, de certa forma, a evitar o acúmulo de gordura.

É por isso que essa alimentação equilibrada nos deixará ainda mais próximos do corpo perfeito – e também mais altos. A prova disso começa a aparecer nas fitas métricas. Elas mostraram que nesse último século a estatura média do ser humano cresceu em torno de 2,5 centímetros. “Os primitivos eram baixinhos e troncudos. Hoje, o homem é mais alto. E no futuro crescerá ainda mais”, diz o anatomista Liberato Di Dio. É compreensível. Quando há carência nutricional, o organismo pega os nutrientes onde eles são pouco necessários, como nos ossos. “Não tem problema ficar baixo”, explica Mirtes. “Com a melhora da alimentação, o corpo não precisa mais recorrer a essa reserva e a pessoa vai crescer os 100% que a genética programou”, diz.

Mas o corpo do futuro também será mais bonito por outras razões. Imagine deitar numa cama e deixar que aparelhos tonifiquem um músculo, acabem com a gordura e amenizem a celulite. Equipamentos como esses estarão disponíveis em pouco tempo. Eles serão um aprimoramento dos que existem em clínicas de estética. “Os aparelhos tratarão vários problemas ao mesmo tempo”, garante Marilena Mandari, gerente comercial de uma das unidades da Clínica Dicorp. E os resultados serão cada vez mais rápidos. Só para se ter uma idéia, se hoje já é possível saborear alguns centímetros a menos no culote em 15 dias, em dez anos este prazo será ainda menor.

Remédio – Para quem quiser uma solução mais prática ainda, pelo menos no que se refere à gordura, haverá também saídas. Em duas décadas, será possível tomar um remédio contra o excesso de peso que ataque precisamente a causa do problema. Um largo passo já foi dado nesse sentido. “Os americanos descobriram a leptina, hormônio produzido pelas células de gordura que diminui o apetite e estimula a queima de calorias”, conta o endocrinologista Antônio Chacra, da Unifesp. De início, essa descoberta fez os cientistas procurarem uma droga à base de leptina, o que acabou não dando certo. “Os obesos têm muita gordura e portanto também muita leptina. Mas alguma espécie de resistência ao hormônio faz com que eles não controlem o apetite”, explica Chacra. A solução contra a obesidade pode, então, estar em alguma substância “prima” da leptina, à qual os obesos não tenham resistência. Outra opção é uma droga feita à base de alguma substância que aumente a suscetibilidade do obeso à leptina. Fora isso, duas outras drogas devem surgir num futuro próximo. “Uma impedirá a formação de gordura e a outra agirá na destruição das células gordurosas”, informa o endocrinologista.

Mas se tudo isso não der conta de um corpo perfeito, haverá a saída da cirurgia plástica, que ganha técnicas cada vez mais sofisticadas e aparelhos precisos. E promete ser quase imperceptível. “Antigamente as cirurgias deixavam cicatrizes enormes. Hoje, basta um furinho para retirar o culote ou qualquer excesso”, diz o cirurgião plástico Paulo Müller. Esse “furinho” a que o especialista se refere é a incisão feita pela cânula – espécie de tubo sugador – que retira a gordura durante a lipoaspiração. Ao que tudo indica, ele será ainda menor nos próximos anos. “A cânula será menos agressiva, mas extrairá uma quantidade de gordura maior do que a extraímos hoje”, prevê o cirurgião plástico Juarez Avelar.

E um novo aparelho, chamado Vibrolipomatic, é só uma amostra do que vem por aí. “Com o equipamento, a cânula, além de sugar a gordura, vibra. Isso evita que o cirurgião esfregue muito o caninho na operação e deixa menos marcas roxas”, conta o cirurgião plástico Farid Hakme. Mesmo assim, os cirurgiões garantem: se o paciente não ajudar, a lipo não funciona. “Cabe a ele se exercitar e manter uma dieta equilibrada. Caso contrário, não há corpo perfeito, nem hoje nem no futuro”, completa o cirurgião plástico Fábio Carramaschi, da Universidade de São Paulo.

Menos agressiva, a cirurgia plástica também afinará seus bisturis para produzir looks mais naturais, derrubando de vez a era das siliconadas. “O boom do silicone é passageiro”, afirma Sérgio Mariotini. Mas para quem desejar colocar uma prótese, também haverá alternativas menos artificiais, que não causem rejeição. “Espera-se que em até 20 anos estejamos implantando próteses feitas com as células vivas do próprio corpo do paciente. Experiências nesse sentido estão progredindo”, informa o cirurgião Avelar. Enquanto esse dia não chegar, as interessadas em implantes nos seios podem trocar o silicone por um novo material chamado poliuretano. “Ele não endurece e fica com uma aparência mais natural”, conta Farid Hakme.

Como se vê, a química entre a tecnologia e o bom senso será a receita do corpo perfeito e harmonioso do futuro. Ele será livre da ditadura dos músculos e da construção pré-fabricada.


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