Às vésperas do 30º GP Brasil, a Ferrari botou ordem na casa. Pelo menos, na aparência. Seus pilotos, o brasileiro Rubens Barrichello e o alemão Michael Schumacher, substituíram as farpas pela troca de elogios. Na apresentação da equipe, na quinta 29, os dois se encontraram rapidamente. Não foi uma reunião propriamente calorosa, mas serviu para que os dois fizessem brincadeiras diante das câmeras, selando um momento de trégua depois de duas semanas de alfinetadas provocadas por uma ultrapassagem feita por Schumacher sobre o companheiro de time no GP da Malásia, disputado em 18 de março.

Após a corrida – vencida pelo tricampeão –, Barrichello, o segundo colocado, acusou o alemão de desrespeitar uma ordem de não ultrapassagem na 11ª volta, quando o brasileiro liderava a prova. Ele alegou que a pista estava molhada e a manobra era arriscada. O piloto disse ainda que, naquela situação, o companheiro deveria permanecer atrás e pensar na equipe. Oficialmente, a Ferrari não comenta a bronca do brasileiro. Mas, nos bastidores da F-1, o diretor-técnico Ross Brawn assegurou que houve um mal-entendido. Barrichello teria tomado como ordem sua própria sugestão de não fazer ultrapassagens. Schumacher respondeu que era mais veloz e não havia razão para ficar atrás do parceiro.

Outra declaração bombástica de Barrichello, na opinião da escuderia italiana, foi a de que a equipe trabalhava para o alemão, e não para ele. Na semana passada, o diretor esportivo Jean Todt cobrou explicações do piloto. O brasileiro culpou os jornalistas, dizendo que suas entrevistas estavam saindo distorcidas. Na terça 27, ele desabafou: “Fico muito em contato com a imprensa e falo demais.”

Barrichello decidiu conter-se. Schumacher, porém, não quis ficar calado e, no dia seguinte, deu uma dura no colega. “Quando preciso falar alguma coisa para o Rubens, falo direto com ele. Não mando recados pela mídia”, afirmou, em meio à farra que fez no Rio. Convidado a participar de um jogo beneficente no Maracanã (Barrichello também recebeu o convite, mas não foi ao estádio), o alemão disputou a partida ao lado de Ronaldo, da Inter de Milão. “Ele é mais veloz do que eu”, brincou. Numa cobrança de pênalti, tomou a bola das mãos de Zico e marcou seu gol. Os torcedores aplaudiram o tricampeão e cantaram: “Schumacher, assim não dá. Ô, meu amigo, deixa o Rubinho passar.”

Na apresentação da equipe, os dois trataram de fazer piadas. Quando Schumacher apareceu, Barrichello começou a fotografá-lo. O tricampeão jogou beijinhos para o piloto. Depois, mais sério, afirmou que o parceiro é muito bom piloto. Barrichello disse que este ano está com o melhor carro que guiou na vida. “No primeiro ano de Ferrari tinha de mostrar quem é Rubens Barrichello. Agora, só tenho de fazer o meu melhor.”