Como se fosse uma sublime vingança contra a crítica e o próprio meio teatral que as despreza, as peças de temática espírita têm atraído multidões e não saem de cartaz. Além da vida, por exemplo, não é apenas uma empreitada bem-sucedida. É um sucesso absoluto de público, há 20 anos em cartaz, como constata Renato Pietro, um dos adaptadores da colagem de textos dos médiuns Chico Xavier e Divaldo Franco. “Se existem espetáculos sobre injustiça social, violência e Carnaval, por que não sobre reencarnação?”, pergunta Pietro. Criação do falecido diretor global Augusto César Vanucci, Além da vida surgiu de conversas com Pietro e os atores Felipe Carone, Hilton Gomes, Paulo Figueiredo e Lúcio Mauro, que resolveram tocar o projeto. A peça já atingiu um público superior a 2,5 milhões de espectadores. Feito semelhante ao megassucesso do teatro comercial, a comédia Trair e coçar… é só começar, que já atraiu 3,5 milhões de pagantes em 15 anos.

Um outro espetáculo do gênero, que acaba de estrear em São Paulo, promete cumprir igual escalada de glórias, para ojeriza dos mesmos detratores. Trata-se de O amor venceu, de Zíbia Gasparetto, que faz coro com E a vida continua, de Chico Xavier, há seis meses em cartaz na capital paulista. No Rio de Janeiro, o fenômeno se repete com Lembranças de outras vidas, de Marília Danny, e O cândido Chico Xavier, de Flavio Serra, dirigida pela atriz Ana Rosa, responsável por outro mega-hit do além, Violeta na janela. Talvez o leitor não espírita ou apenas acostumado às comédias que infestam os palcos do eixo Rio–São Paulo nunca tenha ouvido falar destes textos. Mesmo porque a propaganda não vem da mídia, é feita boca a boca. Seja por causa da própria peça ou pela leitura contumaz do livro que a originou. Ana Maria Dias, uma das atrizes de Trair e coçar, por exemplo, descobriu Laços eternos – escrita em 1989 pela médium Zíbia Gasparetto e apresentada pelo interior do País nos últimos dez anos – quando fazia plantão na biblioteca da Federação Espírita.

Curiosa, pois a obra não parava na prateleira, leu Laços eternos, gostou e fez uma adaptação. “O preconceito existente não é justificável. Filmes como Ghost – do outro lado da vida, Amor além da vida e O sexto sentido tratam do mesmo tema e também são sucesso”, justifica Ana Maria. Preconceito ou não, o fato é que as encenações rendem e muito. E há ainda os que apostam alto, caso da Taruman Produções, cuja montagem de Anália Franco, um candeeiro sobre o alqueire, de Marcelo Medeiros, prevista para estrear em setembro, foi orçada em R$ 300 mil. Pelo visto – sem preconceito – espíritas e espiritualistas estão ficando cada vez mais materialistas.