O diretor da Fundação Cartier para a Arte Contemporânea, Hervé Chandès, é mais um francês que se diz apaixonado pelo Brasil. Mas ele jura que não é só por gostar tanto do País que escolheu para estrelar a grande exposição da programação 2001 da Cartier o fotógrafo brasileiro Alair Gomes (1921-1992). “Em nus masculinos, não há nada hoje comparável no mundo da fotografia ao trabalho deste brasileiro”, assegura o executivo, que também é curador da mostra Alair Gomes photographies, em cartaz na sede da fundação, em Paris. O trabalho do carioca Gomes, que flagrou da sua indiscretíssima janela o rico microcosmo dos corpos masculinos que flanam pelas areias da zona sul carioca, seguirá da capital francesa, em 27 de maio, para vários museus da Europa e dos Estados Unidos. Talvez desembarque no Brasil em 2002.

Alair Gomes, que chegou tardiamente à fotografia, aos 40 anos, é dono de um trabalho que reflete esteticamente sua visão universalista. Filósofo, crítico de arte, professor e colecionador de livros, fotografias e filmes, ele dedicou praticamente toda sua obra a mostrar as praias do Rio de Janeiro e principalmente os homens nelas se bronzeando. Por ser antes de tudo um tímido erudito, Gomes preferia registrar suas imagens como acervo de uma visão pessoal a exibi-las ao olhar público. Daí, o motivo de poucos brasileiros terem ouvido falar dele ou de sua relevância estética.

Amigo de muitos anos e consultor da exposição da Fundação Cartier, o colecionador de arte carioca Gilberto Chateaubriand foi quem apresentou a Chandès o trabalho de Alair Gomes, doado praticamente na íntegra pela família, após sua morte, à Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro. Como membro do conselho da fundação francesa, Chateaubriand cedeu suas 16 fotos para a exposição, que já mereceu capa da edição francesa da revista Vogue Hommes. “Alair Gomes conseguiu imprimir um olhar totalmente particular e sofisticado de uma faixa de areia de não mais de dois quilômetros”, comenta Chateaubriand. O colecionador, que viajou a Paris para a abertura da mostra, não poupa elogios ao fotógrafo. “Ele deixou uma obra de caráter universal”, opina. “Agora, suas fotografias poderão ser apreciadas não só ao vivo, mas em dois livros que serão editados, em francês e em inglês, para serem distribuídos em todo o mundo.”

Criada em 1984, a Fundação Cartier se incumbiu da tarefa de, a cada ano, divulgar nomes de artistas que representem em essência algo de novo no cenário internacional. Sua coleção de trabalhos fotográficos e vídeos vem sendo considerada uma das mais importantes do mundo, reunindo nomes como Nobuyoshi Araki, Thomas Demand, Gabriel Orozco ou Wolfgang Tillmans e, agora, Alair Gomes, que foi assassinado aos 71 anos, no seu apartamento no Rio, em circunstâncias não esclarecidas.