Quando será o fim da festa? Esta é a grande pergunta que analistas do mercado financeiro de todo mundo fazem diante da euforia que a economia americana apresenta desde 1992. Ao contrário da maioria das previsões, o Produto Interno Bruto (PIB) daquele país não pára de crescer há oito anos. “E tudo indica que em 2000 também haverá uma boa performance, o que colocará os americanos no melhor período econômico de toda sua história”, explica Ricardo Amorim, economista do BankBoston. Claro que essa expansão não evitou desastres econômicos pelo mundo afora, como as crises asiática, russa e latino-americana dos últimos anos. Mas é bom lembrar que, quando o Tio Sam espirra, o planeta todo treme. Ele é o principal comprador de mercadorias estrangeiras e rege a diretrizes das políticas econômicas da maioria dos países. No Brasil, existe inclusive a dependência de investimentos em fábricas, empresas de serviços, etc. Daí a preocupação dos especialistas sobre os rumos dos Estados Unidos nos próximos anos. É consenso de que cedo ou tarde haverá uma desaceleração da economia. Só não se sabe quando.

Um dos segredos do excelente desempenho americano é o seu ganho de produtividade. No terceiro trimestre de 1999, por exemplo, os trabalhadores daquele país aumentaram em 4,9% sua produção, em comparação com o mesmo período de 1998. Ou seja, produziram mais a um custo menor, pois a inflação deve ter ficado em torno de 2,5% no ano. Mas as ações das companhias americanas têm se valorizado muito acima de toda essa ebulição e é isso que aumenta o temor de um crash que leve de roldão todo o planeta. Para se ter uma idéia, entre o final de 1991 e meados de novembro passado, o índice Dow Jones apresentou uma alta de 275%, contra uma expansão de 57,6% do PIB. Ficou inclusive famoso o alerta que o presidente do banco central americano (Fed), Alan Greenspan, fez há três anos sobre a “exuberância irracional” das ações. Uma indireta sobre uma iminente desvalorização. A previsão pessimista, porém, até agora não se concretizou e o próprio Greenspan tem levado em conta a possibilidade de que a economia americana passou a viver num novo patamar devido ao uso de novas tecnologias. Isso não afasta a perspectiva de nova recessão, inclusive porque as leis da economia capitalista prevêm períodos de prosperidade e retração. Mas está praticamente descartada uma quebra das ações nas proporções do que se viu em 1929 – quando o valor dos papéis caiu pela metade em menos de 30 dias. “Isso só acontecerá se o Fed for surpreendido por uma alta inesperada da inflação e tiver de elevar demais as taxas de juros do governo”, explica Odair Abate, economista do banco do Lloyds TSB.

Queda controlada – A hipótese é muito remota, pois Greenspan é um especialista atento, que guarda muito bem seu galinheiro. Em 1999, elevou três vezes as taxas de juros, que passaram de 4,75% para 5,5% ao ano. Nem por isso a Bolsa de Nova York despencou. Houve, sim, uma queda gradual. “Ocorreu uma redução média de 8% nos preços de vários papéis desde meados de 1999”, explica Geoffrey Dennis, analista da Salomon Smith Barney. Aparentemente, o Fed tem atuado sutilmente para manter o equilíbrio do mercado. Taxas de juros mais altas nos papéis do governo atraem investidores mais conservadores, que saem das bolsas e aos poucos desinflam a bolha assustadora de Wall Street. Boa parte dos economistas prevê que a prosperidade da economia americana permanecerá nos próximos anos. Não num ritmo como o de 1999, quando o PIB cresceu cerca de 4,5%, um recorde na década. Mas algo em torno de 2,5% ao ano a partir de 2001, numa diminuição de ritmo que pode chegar afinal em uma recessão. “Uma queda controlada”, explica Davis Rubira, do ING Barings. O mais impressionante nessa história toda é que os americanos estão conseguindo provar que é possível adotar novas tecnologias sem aumentar o desemprego. O total de pessoas sem ocupação na maior economia do mundo está em torno de 4,2%, o menor índice dos últimos 19 anos. É de deixar perplexo o mais radical inimigo da automação.