Uma das grandes questões do momento entre os especialistas em trabalho para o próximo século é se a globalização que assolou o mundo também vale para o setor de empregos. Será que nos próximos anos ficará mais fácil para um brasileiro trabalhar na França, ou para um italiano ocupar um cargo de executivo no Japão? Para o sociólogo espanhol Ma-nuel Castells não será tão simples assim. De acordo com ele, embora o capital flua com liberdade nos circuitos eletrônicos das redes financeiras globais, o trabalho ainda é muito delimitado (e continuará assim num futuro previsível) por instituições, culturas, fronteiras e xenofobia. Em seu livro “A sociedade em rede”, Castells afirma que apenas 1,5% da força de trabalho mundial (aproximadamente 80 milhões de trabalhadores) atuou fora de seu país em 1993. “Na União Européia, apesar do livre movimento de seus cidadãos nos países-membros, só 2% deles trabalhavam em outro país em 1993, proporção mantida durante dez anos”, escreve Castells.

Essa barreira “invisível” vale para a média geral dos trabalhadores. É claro que um gênio da informática, por exemplo, será um profissional cobiçado em qualquer lugar do mundo. Basta ver a quantidade de indianos e chineses que trabalham nas empresas do Vale do Silício, região que abriga o maior número de empresas de tecnologia do mundo, na Califórnia. Mais do que nunca, portanto, vence aquele que estiver mais bem preparado e antenado com as necessidades atuais do mercado. Segundo o headhunter Simon Franco, as carreiras tradicionais não serão extintas, o que vai acontecer é o nascimento de novas especializações. “Médicos e engenheiros passarão a trabalhar juntos em equipes multifuncionais, por exemplo”, afirma Franco. De acordo com ele, o aumento da expectativa de vida do ser humano está provocando uma guinada nos setores de medicina e farmacêutica. “Já se fala em terapia e produtos para pessoas da quarta idade”, diz ele. Outro setor apontado pelo especialista é dos mais inusitados: meteo-rologia. “A pressão da competitividade vai chegar ao campo no Brasil, assim como já ocorre em outros países, e não vai dar mais para depender de São Pedro”, afirma. Claro que ele não deixa de citar setores como o de telecomunicações e Internet como as pontas-de-lança da nova era do emprego. Segundo ele, esses dois setores estão criando uma nova relação entre empresa e funcionário. As pessoas são convidadas a entrar em companhias que praticamente ainda estão sendo geradas e se a aposta der certo podem ganhar muito dinheiro. “A moeda de troca é um porcentual sobre a companhia, o que pode significar uma pequena fortuna em alguns anos”, afirma Franco.

Nesse país de extremos que é o Brasil, enquanto poucos têm um horizonte aberto pela frente no mundo da tecnologia, a maioria continua a ver navios. Em 1998, o Brasil assumiu a vergonhosa quarta posição no ranking mundial do desemprego, com sete milhões de pessoas na rua. Perdemos apenas para Índia, Indonésia e Rússia. O que mais assusta é saber que, em 1986, o Brasil ocupava a 13ª posição no mesmo ranking. Segundo o estudo A epidemia do desemprego no Brasil: atualidade e perspectiva, do professor Márcio Pochmann, da Unicamp, a cada ano cerca de 1,5 milhão de pessoas devem ingressar no mercado de trabalho. “Sem a expansão sustentada da economia a taxas superiores a 5,5%, o desemprego continuará endêmico e persistente”, afirma Pochmann.

A redução da jornada de trabalho tem sido apontada por alguns especialistas como uma possível saída para o avanço das demissões. “Ou se reduz a jornada de forma regulada ou isso vai acontecer de forma selvagem, como no Brasil”, afirma o professor Jorge Mattoso, do Instituto de Economia e Pesquisa do Centro de Estudos Sindicais e da Economia do Trabalho da Unicamp. Na França, segundo ele, uma lei estabeleceu que a partir de 1º de janeiro de 2001 todas as empresas terão de reduzir para 35 horas a jornada semanal. Na Alemanha, isso também já acontece em alguns setores, como o metalúrgico. “A taxa de desemprego na Europa está girando em torno de 11% e isso está assustando todo mundo”, afirma Mattoso.

Mudanças – Enquanto isso, nos Estados Unidos as coisas vão muito bem, obrigado. De acordo com dados do Departamento de Estatística do Trabalho dos Estados Unidos, que publicou um estudo sobre a evolução do mercado de trabalho entre 1992 e 2005, a economia americana está projetada para gerar mais de 26 milhões de empregos nesse período. Isso representa um aumento total de 22% em relação ao período anterior (1979 a 1992). Nas projeções, o que fica visível é a tendência de queda do emprego rural e industrial. No caso do setor industrial, haverá um declínio de 17,5% em 1990 para 14% em 2005. O grosso do crescimento ocorrerá nas atividades ligadas a serviços, principalmente nas áreas de saúde e empresarial. Em 2005, os serviços de saúde vão representar 11,5 milhões, o que significa 8,7% do total de empregos. Esse aumento de demanda vai acontecer basicamente no setor de assistência domiciliar, principalmente para idosos.