A nova empresa do terceiro milênio deverá orbitar entre setores como o da Internet, do entretenimento, e das telecomunicações. Eis as novas estrelas que devem tomar o lugar de segmentos emblemáticos do século XX, como o automobilístico, responsável pelas grandes transformações industriais nas últimas décadas. Portanto, sai o átomo e entra o chip. O americano Kevin Kelly, editor-executivo da revista Wired, a bíblia do mundo da tecnologia, escreve em seu livro Novas regras para uma nova economia que entre 1990 e 1996, o número de pes-soas, nos Estados Unidos, fazendo coisas tangíveis – coisas que a gente pode pegar e usar imediatamente – caiu 1%, enquanto o número de pessoas empregadas no fornecimento de serviços intangíveis cresceu 15%.

Numa escala planetária, porém, esse movimento ilustra apenas a parte digital das transformações que vão ocorrer nas empresas nos próximos anos. Após uma era marcada pela desregulamentação dos mercados, pelas privatizações e pelo avanço da globalização, as empresas entram no ano 2000 mais ágeis, enxutas e plugadas no maravilhoso mundo da tecnologia. Vale lembrar que um bom punhado delas está muito mais robusta graças às grandes associações. Enquanto os anos 80 e 90 foram marcados pelas fusões e aquisições, a nova década será a prova de fogo para o desempenho dessas novas corporações vitaminadas. Isso não quer dizer, porém, que a onda das megafusões acabou.

“É um processo contínuo”, diz André Castello Branco, sócio da KPMG Corporate Finance. Segundo ele, cada segmento tem a sua lógica para utilizar essa prática. No Brasil, por exemplo, os setores de bancos e supermercados devem continuar se consolidando para ganhar em escala e o de alimentos está adquirindo pequenas empresas para diversificar a linha de produtos. Até setembro do ano passado, ocorreram 233 fusões e aquisições no País. “No ano 2000 a performance deve ser bem superior caso não ocorra nenhum sobressalto na política econômica”, afirma Castello Branco.

No mundo, também ainda há fôlego para às grandes fusões. Afinal, o que impulsionou negócios estratosféricos como a recente união da Sprint com a MCI, que movimentou US$ 129 bilhões, ou do Citicorp com o Travelers Group, uma associação de US$ 72,5 bilhões, foi a extraordinária abundância de dinheiro para ser investido. E tudo indica que o dinheiro continua por aí, à caça de novas oportunidades. Somente em 1998, as fusões anunciadas com a participação de pelo menos uma empresa americana movimentaram US$ 1,6 trilhão.

Preparar a empresa para o futuro, portanto, pode ser prepará-la para comprar ou ser comprada. De acordo com o consultor Marco Aurélio Vianna, membro da World Future Society, entidade americana que desde 1966 reúne cientistas e economistas do mundo todo para estabelecer tendências sobre o futuro, nos próximos cinco anos ocorrerá uma mudança qualitativa e quantitativa equivalente à dos últimos 30 anos. “Por isso, as pessoas deverão dedicar uma parte fundamental de sua energia para se adequar à nova realidade”, afirma Vianna. Ele dá como exemplo a mudança do termo empresa multinacional para empresa transnacional. “Na empresa transnacional, a competência fundamental de seus executivos é a flexibilidade de convivência com a diversidade cultural e de valores dos países onde atuam”, explica Vianna. “Assim como os paí-ses, seus executivos também não têm fronteiras.”

Outra tendência apontada por Vian-na em seu livro Futuro: prepare-se escrito em parceria com Sérgio Duarte Velasco é a paparicação total do cliente. “O cliente passa a ser disputadíssimo, com exigências de rei”, afirma o consultor. Na próxima década, portanto, a expressão de ordem será “tecnologia de relacionamento.” Todo o aparato tecnológico será colocado à disposição da empresa para descobrir, acompanhar e interpretar os desejos dos consumidores do novo milênio. Através da realidade virtual, a pessoa poderá escolher produtos como roupas e calçados sem sair de casa. Vale ressaltar que todas essas previsões podem deslizar na imprevisível rota da economia mundial. Um bom exemplo disso foi a conclusão de um grupo de cientistas reunidos na Feira Mundial de 1893, em Chicago, com o objetivo de fazer previsões sobre o futuro da indústria para o século XX: “O automóvel é um artigo de luxo, jamais será um produto de massa.”