Se é verdade que uma imagem vale mais do que mil palavras, imagine o impacto que um detalhado retrato em três dimensões de uma artéria obstruída pela gordura pode ter aos olhos de um paciente que nem sequer suspeitava de portar algum problema cardíaco. A simples visão do que pode estar ocorrendo dentro de seu organismo e da possível e catastrófica conseqüência – no caso, o infarto – é capaz de convencê-lo a mudar imediatamente de hábitos. É pensando nesse benefício que muitos médicos começam a recorrer a programas de tecnologia virtual geradores de imagens muito claras do corpo humano. São ferramentas importantes na hora de explicar aos pacientes a evolução de suas doenças e as respostas ao tratamento.

Um desses programas foi desenvolvido por profissionais da computação da Universidade de Dundee, nos Estados Unidos. Eles criaram imagens perfeitas de estruturas do organismo para mostrar como se desenvolvem e evoluem enfermidades como a diabete e a arteriosclerose (depósito de gordura nas artérias). Para saber o impacto que isso provocaria nos pacientes, os médicos selecionaram 18 voluntários com idade média de 71 anos e diagnóstico de arteriosclerose. Após terem visto as imagens, eles se submeteram às consultas tradicionais. “Em comparação aos que não tinham assistido, esses pacientes entenderam melhor o funcionamento do corpo e de suas doenças. A partir desse conhecimento passaram a questionar mais os médicos sobre os seus problemas de saúde e também os tratamentos”, afirma John McGhee, um dos criadores do programa. No caso dos portadores de diabete, outro software exibia os estragos que a doença causa na retina – em alguns casos, pode provocar lesões nos vasos sangüíneos da região e levar a prejuízos graves. Muitos pacientes desconheciam essa complicação, mas a exibição mudou seu comportamento. “Ficaram mais cuidadosos e vigilantes”, afirma Emma Fyfe, da Universidade de Dundee.

No Brasil, o projeto Homem Virtual, criado por professores da disciplina de telemedicina da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, possui recursos que permitem a visualização e compreensão da anatomia e fisiologia do organismo. Por meio de imagens tridimensionais é possível ver cada órgão do corpo sob vários ângulos e observar com exatidão as texturas, músculos, tecidos e artérias. Também é possível demostrar patologias e procedimentos cirúrgicos. “É um recurso importante para a transmissão do conhecimento médico e contribui para a construção de um relacionamento de confiança entre o profissional e o paciente”, afirma Chao Lung Wen, coordenador do projeto.

O programa faz parte da rotina do dermatologista Jaime Oliveira, de São Paulo. Ele até criou um espaço dentro do consultório para as “aulas”. As consultas são ilustradas com imagens sobre a estrutura da pele. Ele também aproveita a exposição para detalhar processos como a influência das bactérias na formação de acne e a importância de manter os cuidados para evitar a proliferação das espinhas. Quando o assunto é sobre algum procedimento estético, a demonstração é mais detalhada ainda. “Faço simulação sobre a aplicação da toxina botulínica e explico como a substância age na musculatura”, explica o dermatologista. De acordo com o médico, esse arsenal digital desperta a curiosidade dos pacientes e tem sido fundamental para melhorar a adesão ao tratamento. “As pessoas ficam fascinadas e seguem mais facilmente as orientações”, diz o dermatologista.